RAIO-X DA EMPRESA
Confab: pré-sal não muda baixo crescimento
Código: CNFB4
Data Base: 04/12/09
Preço da ação PN: R$ 5,03 Número de ações: 399,67 MM
Ibovespa: 67603
Valorização em 2009: 50%

Último Resultado: 3o Trimestre de 2009
Setor: Bens de Capital
Produtos/Serviços Principais: Tubos de aço e equipamentos mecânicos pesados.

Produtora de tubos de aço e equipamentos mecânicos pesados, e controlada por uma multinacional ítalo-argentina, a Confab exibe um desempenho histórico misto. Embora apresente retorno médio de 16,7% aa nos últimos 16 anos, a empresa exibe prejuízos ou lucro próximo de zero em três destes anos.

Estimamos que o preço intrínseco da ação fica em torno de R$ 6,45, indicando um desconto, sem grande atratividade, de 22%. Mesmo assim, devido à variabilidade do registro histórico, e às poucas informações disponíveis sobre planos futuros, esse número deve ser tratado com cautela.

A empresa está bem posicionada, em termos de produto, para tirar proveito da exploração das reservas petrolíferas do pré-sal. Por outro lado, operando atualmente com alto nível de ociosidade, a Confab não divulgou qualquer projeto importante de expansão.

Em função do baixo nível do investimento - e payout modesto - a empresa apresenta, atualmente, alto caixa líquido.

Só recomendamos a compra do papel da Confab ao preço de R$ 4,30, 14% abaixo do preço de mercado atual.

Introdução

As perspectivas do pré-sal

Além de estar razoavelmente bem posicionado na 100MAIS do site, a ação da Confab é uma de somente quatro ações apontadas como atraentes por nossa SELEÇÃO DEFENSIVA. Mas o registro histórico de grande variabilidade da empresa, e seu crescimento modesto, parece aconselhar cautela.

Analisamos a empresa pela última vez em 2000, concluindo que a empresa não oferecia "margem de segurança suficiente para compensar um passado recente inconsistente e um futuro de atrativos inquantificáveis." O comentário chama a atenção a outra característica da Confab: a dificuldade em fazer projeções de seu desempenho futuro.

Perante esses condicionantes temos a impressão que a melhor estratégia de investimento é aguardar uma época de desempenho sub-ótimo e então comprar com o objetivo de esperar uma melhora.

Um novo fator dá mais consistência a essa estratégia um tanto especulativa: as perspectivas de maior demanda trazida pela exploração das reservas do "pré-sal". Vamos analisar.

Tabela de Dados

                                    (milhões de dólares ajustados)  
                                                                         
Ano            2000  2001  2002  2003  2004  2005  2006  2007  2008 2009P
=========================================================================
Tubos Mt        198   323   497   312   247   428   243   428   478     -
Equip M HH      635   956   957   504   574   604   503   588   625     -
-------------------------------------------------------------------------
Receita Liq.    205   455   863   537   445   847   476   799   948     -
Lucro Liquido     0    48   101    11     9   132    41   110   212    99
Pat.Liquido     212   227   273   233   214   303   323   383   519   525
No.Acoes MM     108   108   108   108   325   325   348   353   361   400
-------------------------------------------------------------------------
Lucro/P.Liq. %  0.1  21.3  37.0   4.8   4.1  43.4  12.5  28.7  40.9  19.0
Preco/Lucro x  32.8   3.2   2.7  28.5  59.6   3.9  19.9   8.6   2.7   8.3
Preco/P.Liq. % 42.3  68.1 100.9 135.8 244.9 170.4 250.0 246.8 109.0 156.0
Margem Liq. %   0.1  10.6  11.7   2.1   2.0  15.5   8.5  13.8  22.4     -
Yield (Divi/Preco) %                                                  4.4
Payout (Divi/Lucro) %                                    32.9  24.4  36.1
Lucro/Cap.Invest. %     -     -     -     -     -     -  52.2  63.9     -
Liquidez Corrente x   1.7   1.5   1.3   1.3   2.1   1.6   1.8   2.3     -
Div.Liq/Pat.Liq. %   14.0  22.0   8.0  31.0 -32.0 -40.0 -45.0 -36.0     -
-------------------------------------------------------------------------
P - Projetado         Retorno/Patrimônio Líq baseado no último PL disponível do ano (e não do
início  do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para períodos encerrados e no preço atual
para períodos não encerrados; dados até  31/12/98  convertidos  em  US$ pelo câmbio do fim do
ano em questão, dados a partir de 31/12/98 convertidas pelo câmbio do 31/12/98 (US$1=R$1,21),
após reajustamento pela inflação. Somente as receitas e os indicadores financeiros se referem
aos balanços consolidados.

Breve História da Empresa

Tambores e tubos; Coca-Cola e ouro!

1943 - O banqueiro Gastão Vidigal e o industrial polonês Isydor Kleinberger arrematam em leilão a Fábrica Nacional de Tambores, produtora de tambores de aço, botijões de gás e geladeiras na Cidade de São Paulo, desapropriada de alemães durante a Segunda Guerra Mundial
- O banqueiro coloca seu filho, Antônio Carlos Bueno Vidigal, no comando da empresa

1953 - Com a criação da Petrobras neste ano, e com o desenvolvimento da indústria de refino de petróleo no país, surge a oportunidade para a Confab expandir seus negócios, iniciando a fabricação de equipamentos para a indústria de base

1954 - Compra da unidade de São Caetano do Sul - SP

1961 - Confab inicia a produção de tubos de aço soldados, fechando o primeiro contrato de grande porte: o fornecimento de estacas tubulares para a construção da Usiminas

1974 - Inauguração da Confab Tubos em Pindamonhangaba - SP

1977 - Roberto Caiubi Vidigal assume comando
- Inauguração da Confab Equipamentos em Pindamonhangaba

1980 - Listagem na Bovespa

1982 - Contrato de US$ 60MM com a Pemex

1984 - Diversificação com a compra de 50% da Oca Mineração, mineradora de ouro

1985 - Em parceria com a Cosipa, vence licitação nos EUA para construir trecho de um oleoduto de 2.000 km da All American Pipeline
- Contrato de US$ 20MM para o Poliduto Replan-Brasilia
- Criação da Confab Trading, concentrando as atividades de exportação

1987 - Criação de Confab Química com participação de 67%
- Mais diversificação, com a aquisição da Coca-Cola Refrescos

1988 - Aquisição do controle da GASA que, como Confab Gotaverken, fabrica caldeiras para a indústria de papel e celulose com tecnologia sueca

1993 - Troca de 30% das ações da Confab por 30% da Siat, produtora argentina de tubos de aço soldados do Grupo Techint

1994 - Contrato de US$ 19MM para Gasbel Rio-BH
- Venda da Coca-Cola e Oca Mineração(?)

1995 - Contrato de US$ 21MM para o Poliduto Replan-Brasília
- Adquirido o saldo das ações da Confab Química, subsequentemente incorporada pela controlada Confab Montagens

1998 - Contrato de US$ 600MM para o Gasoduto Bolívia-Brasil

1999 - O grupo Techint adquire controle da Confab via Siderca e Roberto Vidigal é convidado a permanecer como presidente
- Confab e a Soco-Ril inauguram Soco-Ril do Brasil, planta de revestimentos de tubos de aço e peças metálicas em Pindamonhangaba

2000 - Início da transferência das atividades de São Caetano do Sul para Pindamonhangaba

2001 - Criação da Tenaris, aliança estratégica entre 8 produtoras de tubos de aço, com e sem costura, localizadas ao redor do mundo

2002 - Empresa fecha alguns dos maiores contratos de exportação de sua história: o fornecimento de tubos para o Projeto Camisea, no Peru, OCP, no Equador, Gasyrg na Bolívia; e Carina & Aries na Argentina
- Inauguração de base em Rio das Ostras - RJ para atender operações offshore

2003 - Inauguração da Planta de Tratamento Térmico em Pindamonhangaba
- Consolidação da Tenaris como única empresa

2004 - Empresa passa a produzir hastes de bombeio e acessórios para uso no mercado onshore

2005 - Via Socotherm Brasil participa na construção da planta de revestimentos especiais no Espírito Santo para atender a projetos offshore

2008 - Grandes contratos de tubos: PLANGAS da Petrobrás; mineroduto Minas-Rio da MMX; sistemas norte e sul de gasodutos argentinos; oleoduto Los Llanos Orientales na Colômbia; e 22.500 t em produtos com alto valor agregado para aplicação na prospecção de petróleo.

Controle e Administração

Controle estrangeiro; comando brasileiro

A Confab é controlada pela Siderca da Argentina, que detém 99,22% das ações ordinários ou 40,15% do capital total. A Siderca é uma controlada integral da Tenaris, sediada em Luxemburgo, que é, por sua vez, controlada pelo grupo Techint, um multinacional fundado em Milan mas agora sediado em Buenas Aires, Argentina.

Outros acionistas importantes da Confab são Victor Adler e a empresa Gartmore Sicav, que detêm, respectivamente, 9,36% e 5,70%, das ações preferenciais.

O Presidente do Conselho e o Diretor Presidente é Roberto Caiuby Vidigal.

Uma das desvantagens do controle estrangeiro é a subordinação da empresa local e seus acionistas aos interesses globais do grupo. Neste sentido a presença do brasileiro Roberto Vidigal no comando da empresa não deixa de reforçar os interesses locais.

Mesmo assim é válido perguntar a razão do caixa da empresa ser depositado em dólares. Será que aqui os interesses do grupo falaram mais alto?

Grupo

Contribuição de controladas é pequena

Em 2008 a equivalência patrimonial representou 10,2% do resultado da controladora antes do imposto de renda e o resultado financeiro. Relacionamos as empresas consolidadas pela Confab em ordem do percentual de sua contribuição:

Confab Montagens. (44,6%) Participação: 100%.

Socotherm Brasil. (26,8%) Revestimentos de tubos de aço. Participação: 50%.

Siat. (25,3%) Fabricante argentina de tubos de aço soldados com capacidade de 430.000 tpa. Participação: 30%.

Tenaris Confab Hastes de Bombeio. (3,3%) Fabricante de hastes de bombeio e outros materiais utilizados nos setores de petróleo e petroquímica. Participação: 49%.

Confab Trading LLC. Empresa não operacional.

Últimos Resultados

Primeiros 9 meses de 2009

Receita cresce na crise ...

Os dados dos três primeiros trimestres de 2009 são surpreendentes e contrastam com os secos comentários de desempenho da empresa. Em plena crise a receita bruta consolidada da empresa cresceu 14,1% comparada com o mesmo período de 2008!

A receita líquida da Divisão Tubos, 82,8% da receita total, subiu 8,8%, desafiando a queda de 35,6% na tonelagem vendida. A performance da Divisão Equipamentos foi melhor ainda, crescendo 33,4% em termos de receita liquida e 21,1% em termos de homem-horas trabalhadas.

Como é possível os preços subirem durante uma forte recessão? Os relatórios da empresa não esclarecem mas só pode haver única explicação: os contratos foram assinados próximos do pico do ciclo de expansão econômica que terminou em 2008.

... mas perspectivas não estão boas

As perspectivas de médio termo não estão boas. Como o mercado de tubos de aço é internacional, e a economia global ainda não se recuperou da crise, espera-se volume menor de pedidos e preços mais baixos no primeiro semestre de 2010.

A posição da carteira de pedidos da Divisão Tubos mostra claramente a situação: enquanto a carteira totalizava R$ 1.611M no fim do terceiro trimestre de 2008, na mesma data de 2009 somava somente R$ 503M. A situação da Divisão Equipamentos é bem melhor: pedidos em mão de R$ 486M em 2008 e R$ 530M em 2009.

Ocupação de capacidade abaixo de 60%

Considerando a capacidade de produção de 550.000 tpa de tubos - ou 412.500 t em 9 meses - as vendas da unidade, de 236.627 t no período, representam 57% da capacidade. Em relação a unidade de Equipamentos, considerando capacidade total anual de 960.000 HH - ou 720.000 HH em 9 meses, os 477.250 horas trabalhadas nos 9 meses representam ocupação de 66%.

Como não há menção nos Comentários de Desempenho trimestrais da empresa - que se restringem aos dados básicos - só podemos concluir que a situação da Divisão Equipamentos é melhor que a Divisão Tubos porque a segunda depende mais do deprimido mercado externo.

Caixa em dólar prejudicado

Com o forte avanço na receita bruta por que o lucro líquido caiu 46,1%? A culpa é do resultado financeiro: as receitas caíram e as despesas - especialmente a variação cambial - subiram. Embora, de novo, não haja explicação no Comentário de Desempenho, a razão da variação cambial negativa parece clara: praticamente todo o caixa e equivalentes é composto de aplicações em dólares desvalorizados.

Planta, Produtos e Receitas

PLANTA E PRODUTOS

Líder na indústria energética

Divisão TenarisConfab

Produz tubos de aço soldado de revestimentos diversos e hastes de bombeio para as indústrias de Petróleo e Gás (exploração, produção, condução e distribuição), Petroquímica, Saneamento, Mineração e a indústria em geral.

É líder na produção de tubos de aço soldados para a indústria energética brasileira e na exportação dos mesmos para o Mercosul e América Latina. A capacidade da planta, localizada em Pindamonhangaba - SP, é de 550.000 tpa de tubos. A participação e 30% da Confab na controlada Siat adiciona mais 129.000 tpa de capacidade.

Divisão Confab Equipamentos

Produz, em Pindamonhangaba, equipamentos mecânicos pesados para as seguintes indústrias:

- Petróleo e Petroquímica (vasos de pressão, reatores, torres, tanques, esferas, fornos, trocadores de calor, equipamentos offshore);
- Celulose (sistema de evaporação, digestores, caldeira de recuperação);
- Energia (caldeiras especiais, HRSG e nucleares);
- Mineração e Siderurgia (alto fornos, equipamentos para alumínio, bauxita e alumina); e
- Máquinas de Pátio e Porto (carregadores e descarregadores, contínuos de navios, empilhadeira e recuperadoras, sistemas de correias transportadoras e viradores de vagões).

Não há informações sobre a capacidade física mas a empresa menciona que a Divisão possui uma estrutura que comporta, atualmente, 960.000 homem-horas anuais.

COMPOSIÇÃO DE RECEITAS

Grandes contratos, poucos clientes

A carteira de pedidos da empresa é composta de grandes contratos assinados com poucos clientes. Assim o nível de atividade varia bastante de um ano para outro gerando grande variações na composição das receitas. Em 2008 a Divisão Tubos gerou 87% (85% em 2007), e a Divisão Equipamentos 13% (15%), da receita líquida total.

No mesmo ano, as exportações representaram 36% da receita da Divisão Tubos (25% em 2007). Não houve nenhum contrato externo importante na Divisão Equipamentos.

Composição de Receita por Segmento (nos 9 meses de 2009):

Petróleo e Petroquímica 92%
Papel e Celulose 5%
Caldeiras e Energia 3%

Investimentos

E os investimentos do pré-sal?

As novas reservas brasileiras de hidrocarbonetos levantam uma pergunta: se o futuro for tão promissor por que não se observa mais animação nos investimentos da Confab. Em 2007 e 2008 o valor dos investimentos, apesar da sobra de caixa, representou somente 1% da receita bruta! Note que o controle externo da empresa significa que decisões de investir, ou não, em projetos importantes são tomadas fora do país.

Em relação à produção de tubos, aparentemente a empresa se dará por satisfeita se simplesmente conseguir voltar para plena ocupação de sua capacidade atual - especialmente agora que as exportações, na saída da crise e com a valorização do real, sofrem pressões de demanda, preços e custos.

Há outra aspecto a considerar. A produção de tubos soldados da Confab e Siat, de 550.000 tpa e 430.000 tpa, respectivamente, representa somente parte da capacidade mundial do grupo Tenaris de 2,8MM tpa. Se ainda houver disponibilidade em plantas de outros países é improvável o grupo expandir capacidade no Brasil ou Argentina. Neste caso novas encomendas externas seriam atendidas a partir de fábricas com capacidade ociosa em outros países.

Em sua recente presentação à APIMEC a empresa menciona três projetos. Somente o terceiro visa o aumento de capacidade - mas se limita à Divisão Equipamentos:

2009

- Processo de Formação SAW Longitudinal (UOE) para Tubos Offshore – Projeto Tupi (R$ 32M)

2010

- Ultrasom de Corpo para controle de qualidade (R$ 17M)
- Novo pavilhão industrial para Confab Equipamentos (R$ 27M)

Confab - parte 2

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