Revelação inesperada Quase três anos atrás, o interesse por jornalismo e pela Internet nos levaram a colocar nossa experiência do mercado financeiro a serviço do pequeno investidor. Não tínhamos pretensões comerciais, somente o desejo de compartilhar uma viagem pelo mundo de investimento em ações por um novo caminho. Sim, a empreitada tinha outro componente: a descoberta do Value Investing de Benjamin Graham e seu aluno mais bem sucedido, Warren Buffet. É necessário enfatizarmos estes nomes porque nos últimos anos o conceito de "procura por valor" não tem se diferenciado muito da velha análise fundamentalista. Nos Estados Unidos o enfoque de "valor" (value) tem sido erroneamente contrastado com o de "crescimento" (growth). Investidores locais certamente não desconhecem os conceitos de Value Investing. Pelo menos uma instituição faz questão de anunciar sua utilização na publicidade que divulga. Mesmo assim, acreditamos que seja útil rediscutir a essência da abordagem, e descrever as razões que nos convenceram de sua grande validade para o pequeno investidor. Começamos no site descrevendo as idéias de Graham e Buffet. Em seguida montamos e acompanhamos várias carteiras modelo onde combinamos uma carteira defensiva, orientada por critérios sugeridos por Graham, com três carteiras convencionais. Uma destas últimas se baseava nos componentes mais líquidos do Índice Bovespa, as outras duas em papéis, respectivamente, dos setores de energia e de telecomunicações. Como o foco do trabalho era o pequeno investidor, nenhuma das carteiras continha mais do que 10 papéis. Em paralelo iniciamos a descrição de empresas individuais com o intuito de introduzí-las ao pequeno investidor novato. Com a passagem dos meses as descrições tornaram-se análises detalhadas orientadas pelos conceitos de Buffet. Para identificar as empresas alvo filtramos uma base de dados de 160 empresas usando oito critérios diferentes. Com a forte recuperação da bolsa durante 1999, os papéis mais líquidos do mercado, como era de se esperar, tomaram a dianteira. Assim a liderança da nossa "Carteira Ibovespa" foi garantida, deixando as outras carteiras, incluindo a "Carteira Defensiva de Graham" bem atrás.
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Aí veio, aos poucos, uma revelação inesperada. Com o tempo começamos a observar que recomendações baseadas nas análises das empresas mostravam um alto grau de acerto. Uma avaliação publicada no site em agosto de 2000 mostrou que das 29 empresas analisadas ao longo de 1999, os 14 papéis recomendados tinham apresentado uma valorização média que superava a variação do Índice Bovespa em quase 40%. O mais assustador era o fato que, no início, não tínhamos utilizado as conclusões das análises para orientar nossos próprios investimentos. Fundamentalismo com nível de exigência maior Afinal, quais são as características que diferenciam a abordagem de Graham e Buffet da análise fundamentalista convencional? São estas:
- Grande ênfase no negócio da empresa Além, possivelmente, do segundo item, a lista não contem nada de especial. De fato, o que realmente distingue as idéias da dupla não são as técnicas em si mas o nível de exigência muito maior. Uma boa folha corrida de 10 anos é pouco. O ideal é uma empresa não ter nenhuma dívida. Embora dependa da situação, o desconto procurado pode superar 50%. E o horizonte de investimento pode ser de décadas. O foco no passado é fascinante porque vai contra a afirmação que "não se pode extrapolar o passado para o futuro". Mas quem tem a coragem de afirmar que uma previsão de lucro para os próximos cinco anos pode ignorar um registro consistente de 15 anos de dados firmes. A palavra crucial aqui é "consistente". É neste ponto que as idéias do aluno começam a divergir do pensamento do professor. Enquanto Graham considera que "um preço suficientemente baixo pode converter uma ação de qualidade medíocre em um investimento sólido", Buffet tende a enfatizar o ideal de Phillip Fisher(1), seu outro mentor, de encontrar "as verdadeiras grandes empresas, e ficar com elas por todas as flutuações do turbilhão que é o mercado." Aqui o que interessa, acima de tudo, é a força do negócio da empresa e a competência de sua administração. |