FLASH DA EMPRESA
Weg: a descoberta
Data: 25/08/99
Preço do PN por 1000 ações: R$780.00 (US$410.53) Número de ações: 640.72M
Setor: Equipamentos Elétricos Produtos/Serviços Principais: Motores elétricos, componentes eletroeletrônicos, transformadores, geradores, automação industrial e tintas industriais

Esperamos que, em 2000, um desempenho parecido com o de 1998 produza uma valorização de talvez 20% no preço da ação. Esta - se nos conformamos com sua líquidez muito baixa - já seria uma possível razão para comprar a ação. Mas uma razão muito melhor é a oportunidade que o rápido crescimento da empresa oferece de obter um retorno médio de por volta de 20% em cada um dos próximos 2-5 anos, entre dividendo e ganho de capital.

Ano                           1994   1995   1996   1997   1998   1999P
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Receita Liquida (US$M)         308    330    358    416    436       -
Lucro Liquido (US$M)            44     31     39     52     81      64
Patrimonio Liquido (US$M)      211    249    254    264    292     310
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Retorno/Patrimonio Liq (%)    20.8   12.3   15.4   19.8   27.6    21.0
Preco/Lucro (x)                  -    8.6    7.7    7.4    3.9     6.5
Preco/Patrimonio Liq (%)         -  106.1  119.0  147.6  108.8   133.0
Margem Liquida (%)            14.2    9.3   10.9   12.6   18.5       -
Yield (Dividendo/Preco (%)                                         3.8
Payout (Dividendo/Lucro) (%)                                      25.0
Liquidez Corrente (x)            -      -      -    2.0    1.9       -
Divida Liquida/Patrim.Liq (%)    -      -      -    1.0    1.0       -
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P - Projetado               Retorno/Patrimônio Liq baseado no ultimo PL disponível do ano (e não do inicio
 do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para dados históricos e no preço atual para dados projetados;
dados históricos convertidos em US$ pelo câmbio do fim do ano em questão, projeções convertidas pelo
câmbio do 31/12/98; vendas e indicadores de solvência e liquidez se referem a dados consolidados.

A Weg que insiste
Tentamos evitar a Weg, com sua baixa liquidez, e vaga semelhança com Embraco, de toda maneira, mas não conseguimos. O nome aparece em cada pesquisa que encomendamos ao nosso sistema de análise: aparece entre as oportunidades de curto prazo, entre os papéis adequados para um investidor defensivo, e entre as empresas que mais cresceram nos últimos anos. Não há escapatória, antes de passar para setores mais óbvios, mas menos atraentes sob o frio olhar dos números, como alimentos, energia ou comunicações, vamos ter que vasculhar o mundo de motores elétricos.

Há contra-indicação?
Sem mais nem menos vamos para os números. Logo vimos que, ao longo dos últimos 5 anos as receitas subiram a uma taxa média de 9% ao ano. Lucro é outra história: um aumento de 16% ao ano! E não detectamos nenhum fator excepcional no início ou fim da série de dados que exagere o cálculo. (Ao contrário, em 1995 foram despesas não operacionais que provocaram a queda de lucro.) E veja o retorno sobre o patrimônio líquido nos últimos anos: 15%, 20%, 28%. Não há dívida líquida, a liquidez corrente é alta e a companhia passou praticamente incólume pela desvalorização. E o melhor de tudo é que o preço/lucro é baixo com relação à média do mercado. Além do número muito baixo de negócios na bolsa há outra contra-indicação? Vamos lá.

Dinheiro dobrado
Mas antes vamos lembrar o que significa um preço/lucro constante ao longo do tempo - o caso da Weg se ignoramos o soluço no fim de 1998 - e um lucro crescendo a 16% ao ano. Significa que a expansão de lucro está alimentando um avanço semelhante no preço da ação. Se adicionarmos um dividendo anual que equivale 3-4% do preço, fica claro que o acionista da Weg tem recebido um retorno sobre seu investimento de quase 20% ao ano. Melhor: antes da desvalorização ele tinha dobrado seu dinheiro em 4 anos em termos de dólar.

Nenhuma Brastemp
Os produtos da Weg não possuem o tchan de uma cerveja Antarctica, um cigarro Malboro ou até uma geladeira Brastemp (e o severo nome germânico que eles levam não desliza na língua como "Embraer" ou "Telemar", por exemplo). Até o logo da firma tem um aspecto quadrado. São motores elétricos, transformadores, geradores, componentes eletroeletrônicos, automação industrial e tintas industriais. A empresa é a líder de motores elétricos de corrente alternada na América Latina e "uma das 5 maiores do mundo" no setor.

De ponte rolante a espremedor de fruta
É quando aprendemos as aplicações dos motores da empresa que percebemos a oportunidade oferecida pelo setor. Começam com pontes rolantes, guindastes, tração para vagões, teares e máquinas operatrizes, passam por infinitas aplicações agrícolas (picadores, trituradores, bombas para irrigação, descarregadores de silos, etc.), elevadores, bombas para piscinas, ventiladores e máquinas de lavar roupa, e acabam com cortadores de carne e espremedores de fruta. Acreditamos na afirmação da Weg que ela tem um motor para praticamente qualquer aplicação.

Werner+Eggon+Geraldo
Lendo a história da empresa, descobrimos que, de fato, o nome "Weg" se deve às iniciais de seus fundadores Werner Ricardo Voight, Eggon João da Solva e Geraldo Werninghaus. Estranhamente, o primeiro nome da companhia que os três fundaram em 1961 não foi este mas "Eletromotores Jaraguá". Em 1985, após passar a parte operacional para uma controlada criada para este fim, a Weg Motores, a empresa original virou um holding não operacional. Em 1996 a controlada, que se manteve como a operadora principal do grupo, adquiriu a Motores Elétricos do Brasil, incorporando a firma, que produzia motores de 1/4 até 3/4 HP, em 1998. E ao longo dos anos, na medida em que aumentou o interesse do grupo por outros segmentos foi se adicionando novas subsidiárias.

Famílias vencedoras
Pesquisando mais, observamos que a Weg SA é uma empresa familiar. Uma companhia chamada Weg Participações e Serviços possui 97% das ações ordinárias e 42% das preferenciais da Weg SA. Os nomes dos poucos acionistas incluem os dos fundadores e de pessoas que são obviamente seus familiares. Da mesma maneira encontramos o nome de um dos fundadores e, aparentemente, um ou outro familiar entre o Conselho de Administração e a Diretoria Executiva, tanto da holding Weg SA quanto da Weg Motores. Não sabemos se houve brigas intra- ou inter-familiares no passado do grupo, mas no presente, pelo menos, a fórmula genética parece vencedora.

De Jaraguá para o mundo
Hoje a Weg SA, a única companhia do grupo listada em bolsa, possui praticamente 100% do capital de 6 companhias fornecedoras de produtos ou serviços, todas localizadas em Santa Catarina, a maioria em Jaraguá do Sul. Destas a Weg Motores (motores monofásicos e trifásicos até 250 CVs) é de longe a mais importante, sendo responsável por 65% das vendas consolidadas. Em seguida vêm Weg Máquinas (máquinas elétricas de grande porte), Weg Acionamentos (componentes elétricos), Weg Automação (máquinas, equipamento e sistemas integrados elétricos, eletrônicos e eletromecânicos, etc), Weg Transformadores (transformadores) e Weg Química (tintas, etc.). No Brasil, Weg Exportadora atua nas exportações do grupo, enquanto uma rede de empresas em 10 países diferentes comercializa e distribui os produtos do grupo no exterior, fornecendo assistência técnica a clientes.

Mercado dominado
De acordo com as informações da Weg, o grupo domina 55% do mercado de motores monofásicos e 75% do mercado de motores trifásicos no Brasil. Suas principais concorrentes são Eberle e Kohlbach Motores. Em 1998 o grupo vendeu 6,2M motores elétricos de corrente alternada, seu produto mais importante, 11% a mais do que em 1997. Também em 1998, 23% de receitas vieram das exportações. A estratégia declarada do grupo é "crescer no mercado de sistemas elétricos industriais e automação".

Barato em termos do mercado; no preço em termos históricos
Voltamos para nossa tabela de dados financeiros, enfocando os indicadores de mercado: preço/lucro e preço/patrimônio líquido. Já comentamos a estabilidade do primeiro - pelo menos no fim de cada ano. O segundo não está muito longe do máximo da tabela, que foi registrado no fim de 1997. Como pode ser visto, o retorno sobre patrimônio líquido projetado para 1999 é parecido com o nível do indicador naquele ano: por volta de 20%. Se excluirmos os dados de 1998, quando um retorno maior coincidiu com uma forte baixa no mercado como um todo, o preço/patrimônio também mostra uma certa consistência, variando de acordo com o retorno obtido. Assim os dois indicadores sugerem que o preço atual da ação, em relação aos preços no fim de cada ano exibido, não está nem caro nem barato, mas no preço. No entanto, se comparamos o preço/lucro atual do papel com o P/L médio de 11.0x apresentado pelas ações das empresas lucrativas de nosso universo, verificamos que, em termos do mercado, a ação da Weg está, sem dúvida, barata.

Condições mais favoráveis à vista
Vamos apelar para a memória mais longa e mais completa de nossa base de dados. Aqui verificamos que o preço/patrimônio máximo absoluto dos últimos anos foi de 239% (nossa tabela somente mostra o indicador no fim de cada ano), 40% acima do nível atual do papel. Um segundo dado é o retorno sobre patrimônio de 27,6% obtido pela empresa em 1998. Mesmo que pareça alto para um prosaico fabricante de motores elétricos, não detectamos nenhum fator incomum ("extraordinário") no balanço do ano. Quer dizer: não há razão para supor que esse retorno não possa ser repetido, e até ultrapassado, no futuro, dadas condições favoráveis. (O menor lucro previsto para 1999 é resultado das perdas de R$23M com a desvalorização.) Isso sugere que há espaço para um aumento no preço da ação. Porque? Por que esperamos condições favoráveis: uma economia em recuperação e um real mais baixo impulsionando exportações e inibindo importações.

Número surpreendente!
Pedimos uma segunda opinião ao Método de Fluxo de Caixa Descontado. Um cálculo grosseiro e relativamente otimista do valor da empresa, usando o lucro de 1998 para calcular uma base inicial de dividendos, uma taxa de crescimento de lucro futuro de 10% ao ano, e nossa taxa de desconto de 13% (a Taxa de Juros de Longo Prazo) produz o número surpreendente de US$675M*, 60% acima do valor do mercado atual de US$412M*. Se utilizarmos a média do lucro de 1997 e 1998, como base para calcular os dividendos iniciais, obtemos o valor de R$555M. E com lucro de 1998 e uma taxa de crescimento de 9% temos R$506M.

(* Lembramos que, para permitir alguma comparação com os dados históricos, que registramos em dólar, mostramos as projeções para 1999 ao câmbio do fim de 1998: US$1,00 = R$1,21. Calculado a partir do lucro de 1998, o valor estimado da empresa também embute este câmbio. Para convertê-lo em reais simplesmente divida por 1,21.)

Preço deprimido, dividendos elevados
Tudo indica, que o preço cotado em bolsa não reflete a potencialidade da empresa. Mas é pouco provável que toda esta potencialidade vá se traduzir em preço maior. Sem dúvida é o número muito baixo de negociações diárias do papel em bolsa, como no caso de Marcopolo e Embraco, que é responsável por esta situação. Mas não tem problema - e isso é o ponto chave - o potencial não realizado através de aumento de preço vai se materializar em yield de dividendos (dividendos recebidos como percentagem do preço de compra). Quer dizer, não tem problema em termos: com uma média de talvez 10 transações por semana, um investidor que deseja comprar ou vender o papel tem que ter bastante paciência.

Questão espinhosa
Mas vamos atacar a questão mais espinhosa: pode a Weg continuar a expandir seus lucros em 16% ao ano? No longo prazo, se suas vendas aumentam a uma taxa de somente 9%, claramente não - a discrepância é grande demais. Mas no ciclo de expansão que, aparentemente, está se iniciando, parece perfeitamente viável uma aceleração no crescimento de vendas para, vamos dizer, 12-15% ao ano. Conjugue isso às economias de escala da maior produção, e ao persistente esforço de cortar despesas, e não é preciso muita imaginação para vislumbrar uma expansão de lucro de por volta dos 16% ao longo dos próximos 2-5 anos. Esta taxa representa uma continuação das condições que dobraram o preço da ação nos últimos 4 anos.

Viva a Weg!
É fácil elaborar nossa conclusão. Com a recuperação da economia, e o estímulo dado a exportações pela desvalorização, esperamos que um desempenho parecido com o de 1998 em 2000 produza uma valorização moderada da ação (+20%?). Esta - se nos conformarmos com sua baixa liquidez - já seria uma possível razão para comprar a ação. Mas uma razão muito melhor é a oportunidade que o rápido crescimento da empresa oferece de obter um retorno médio de por volta de 20% em cada um dos próximos 2-5 anos, entre dividendo e ganho de capital. Viva a Weg, severa e quadrada, mas girando bobinas a uma velocidade cada vez maior!

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