CARTEIRAS A&R
O Problema Weg: imposto injusto e irracional
Investimento de longo prazo é prejudicado

Voltamos, mais uma vez, à Weg.

Weg turbina Carteira

A posição da Weg está turbinando nossa Carteira Concentrada de Buffet* em 2024. Ao avançar 47% no ano até agosto a ação da empresa é a principal responsável para o retorno de 15% contabilizado pela Carteira. Este resultado supera em muito os 1,3% apresentados pelo Índice Bovespa no período.

Posição representa 30% da Carteira

O forte impacto da valorização do papel se deve ao fato que a posição da Weg já representa 30% da Carteira (e 49% do seu componente de ações).

Apesar da Carteira ser definida como "concentrada" a participação da Weg é considerada excessiva. Seu grande tamanho se deve a três fatores:

- O alto retorno das aplicações no papel que, excluíndo os dividendos, alcança impressionantes 807% (858% com dividendos);
- Nossa avaliação que as ações da empresa, considerada uma das melhores da bolsa, merece um sobrepeso na Carteira; e
- A dificuldade em se desfazer do papel sem pagar impostos absurdamente altos.

Como atrapalha a redução do peso da Weg é este último fator que constitui o "Problema Weg".

Inflação aumenta imposto em 5 vezes!

Ao vender mais de R$ 20.000 de ações em um mês pagamos 15% sobre o lucro calculado apartir da diferença entre o preço da venda e o preço médio das compras. Só que não há nenhuma compensação pelo aumento no preço da ação que resulta da incidência da inflação. Ao longo de períodos curtos o efeito do procedimento é pequeno; no caso de prazos prolongados, no entanto, a distorção é grande.

É o caso da Weg na Carteira Concentrada onde a primeira aquisição ocorreu em setembro de 2002, 22 anos atrás! Como a inflação desde então, medida pelo IPCA, atingiu 266% (fator de 3,66) mais de um terço da "valorização" subsequente da aquisição simplesmente compensa a queda no valor da moeda.

É certo que este é um caso extremo: não deve ser muito comum manter uma ação durante mais de duas décadas. Mas ele ilustra o fato que ao vender ações compradas anos atrás uma alta percentagem dos impostos pagos se deve à desvalorização da moeda. Se supormos que a aquisição inicial citada fosse a única, cálculos** mostram que teríamos que desembolsar mais de 5 vezes mais de impostos em função da incidência de inflação!

5 anos de vendas

O acionista pode evitar pagamento de impostos de duas maneiras: antes de calcular os impostos ele pode deduzir do lucro obtido com a Weg as perdas anteriores sofridas com vendas de outras ações; ou ele pode limitar suas vendas a R$ 20.000 a mês, nível que permite isenção. Esta segunda opção fica impraticável se o lucro estiver muito grande. No caso da posição da Weg na Carteira Concentrada seria necessário - se não nos desfizermos das ações de nenhuma outra empresa - quase 5 anos de vendas!

É um imposto injusto porque é arbitrário. Não existe aliquota fixa: seu valor real aumenta com o tempo em que se mantém a ação! O imposto é irracional porque ele desincentiva investimentos de longo prazo, favorecendo aplicações de curto prazo que acarretam o pagamento de custos improdutivos de intermediação.

*Fundo de investimentos de família e colegas.

**Cálculos:

Supondo aquisição de R$ 10000 das ações da Weg em 9/2002. Após 22 anos retorno é 807% (fator de 9,07) e inflação 226% (fator de 3,66).

Situação atual:

Valorização = 10000 x 9,07 = 90700
Lucro = 90700 - 10000 = 80700
Impostos = 80700 x 0,15 = 12105

Situação com dedução da inflação:

Valorização = 10000 x 9,07 = 90700
Retirada de inflação = 90700/3,66 = 24781
Lucro = 24781 - 10000 = 14781
Impostos = 14781 x 0,15 = 2217

Impostos reais / impostos após dedução de inflação = 12105 / 2217 = 5,46 (ou 446% a mais)

18/09/24

Primeira Página

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