RAIO-X DA EMPRESA
Tractebel: maior e melhor geradora do setor privado
Código: TBLE3
Data Base: 25/04/08
Preço da ação ON: R$ 23,20 Número de ações: 652,74 MM
Ibovespa: 65187
Setor: Energia Elétrica
Produtos/Serviços Principais: Geração de Energia Elétrica.

Desde sua privatização em 1998 a Tractebel tem apresentado crescimento moderado de capacidade produtiva e boa expansão de receita. Embora lucro, retorno e margem líquida tenham atingido níveis excelentes nos últimos 4 anos houve percalços em anos anteriores gerados pelo racionamento e pela desvalorização cambial.

Adotando um conjunto de premissas relativamente conservadoras obtemos um preço intrínseco de R$ 30,10, 30% acima do preço de mercado. Dado às lacunas em nosso conhecimento da empresa achamos necessário uma margem de segurança de pelo menos 40% para tornar o papel da Tractebel atraente. Isso significa um preço máximo de mercado de R$ 21,50, abaixo, portanto, do preço de mercado atual.

A Tractebel apresenta um nível razoável de risco: mudanças na regulamentação poderiam reduzir lucros; uma falta de chuva poderia desorganizar a produção; e uma queda no alto payout de dividendos poderia reduzir o retorno ao investidor.

Introdução

A vez da energia elétrica?

Nosso interesse na Tractebel vem do ano retrasado quando identificamos a empresa, em Foco sobre o Setor de Energia Elétrica, como o melhor investimento no segmento de geração de nossa base de dados. Mas não consideramos a empresa uma compra especialmente atraente naquele momento. Agora, com a ameaça de recessão nos Estados Unidos, e um aumento no risco associado às ações cíclicas dependentes de commodities, o setor de energia elétrica doméstico tornou-se uma opção mais interessante.

É certo que a Tractebel não ocupa uma posicão de destaque em nossa 100MAIS, sendo localizada após geradoras como AES Tietê, Cemig e Copel. Por outro lado nosso filtro preliminar não possui opinião sobre a estranha opção de não expandir da AES Tietê ou as possíveis desvantagens do controle estatal.

Margem x risco

O conselho de Warren Buffet é investir naquilo que entendemos. Há aspectos tanto do setor elétrico em geral quanto das geradoras da iniciativa privada em particular que, para nós, são mistérios. A forte redução no patrimônio líquido das geradoras, em particular o da Tractebel e da AES Tietê, é um exemplo: podemos oferecer várias possibilidades mas a explicação exata do fenômeno nos escapa. Existem, também, diversos detalhes do negócio da Tractebel que desconhecemos.

A única proteção que possuímos contra os riscos representados por fatores não totalmente compreendidos é o tamanho da margem de segurança.

Tabela de Dados

                                    (milhões de dólares ajustados)  
                                                                         
Ano            1996  1997  1998  1999  2000  2001  2002  2003  2004  2005  2006  2007  2008P
===========================================================================================
Receita Líq.      -     -   459   550   760  1388   805   963  1200  1172  1112  1345     -
Lucro Líquido     -     -     6   -55   117   388  -108   279   388   437   452   462   502
Pat.Líquido       -     -  1889  1678  1748  1962  1629  1405  1396  1276  1276  1245  1245
No.Acoes BI       -     - 539.1 539.1 603.8 652.7 652.7 652.7 652.7  0.65  0.65  0.65  0.65
-------------------------------------------------------------------------------------------
Lucro/P.Líq. %    -     -   0.3  -3.3   6.7  19.8  -6.6  19.9  27.8  34.3  35.4  37.1  40.0
Preço/Lucro x     -     -   0.2 -14.3  10.9   4.5 -12.5  10.1   8.3  10.7  12.0  13.3  13.3
Preço/P.Líq. %    -     -  37.3  46.9  73.0  88.5  82.8 201.0 229.5 365.7 425.0 493.6 538.0
Margem Liq. %     -     -   1.4 -10.0  15.4  28.0 -13.5  29.0  32.4  37.3  40.7  34.4     -
Yield (Divi/Preço) %                                                                    5.7
Payout (Divi/Lucro) %                                                                  76.0
Lucro/Cap.Invest. %     -     -     -     -     -     -     -     -  26.4  29.0  27.3     -
Liquidez Corrente x     -     -     -     -     -     -     -   0.9   1.0   0.7   0.9     -
Div.Líq/Pat.Líq. %      -     -     -     -     -     -     -  20.0  30.0  22.0  36.0     -
-------------------------------------------------------------------------------------------
P - Projetado         Retorno/Patrimônio Liq baseado no ultimo PL disponível do ano (e não do
inicio  do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para períodos encerrados e no preço atual
para períodos não encerrados; dados até  31/12/98  convertidos  em  US$ pelo câmbio do fim do
ano em questão, dados a partir de 31/12/98 convertidas pelo câmbio do 31/12/98 (US$1=R$1,21),
após reajustamento pela inflação. Somente as receitas e os indicadores financeiros se referem
aos balanços consolidados.

Breve História da Empresa

1998
- Gerasul, resultado indireto da cisão dos ativos de geração de energia elétrica (3.719 MW) da Eletrosul, controlada da estatal Eletrobrás, foi adquirida pela SESA, controlada brasileira do grupo europeu Suez

2000
- Gerasul adquire a Usina Termoelétrica (UTE) William Arjona
- Usina Hidroeléctrica (UHE) de Itá inicia operação, levando total capacidade instalada para 4.599 MW
- Primeiro contrato com consumidor final

2001
- Razão social da Gerasul alterada para "Tractebel Energia"; capacidade instalada alcança 4.966 MW

2002
- UHE's Cana Brava e Machadinha iniciam operação e termina-se a ampliação da UTE William Arjona, levando a capacidade para 6.173 MW
- primeiro leilão de venda de energia
- autorizada a venda de energia para a Argentina
- 97% das vendas efetuadas através de "contratos iniciais"

2003
- Unidade de Co-geração Lages inicia operação e capacidade instalada chega a 5.860 MW
- 76% de vendas através de contratos iniciais e 24% através de "contratos bilaterais" com distribuidoras, comercializadoras e consumidores industriais

2004
- Contratos bilaterais representam 55% da energia fornecida
- Capacidade de fornecimento de energia de 6.202 MW

2005
- Primeiro leilão de energia nova
- oferta secundário de 71M ações e adesão ao Novo Mercado
- contratos bilaterais representam 82% da energia fornecida
- Capacidade instalada de 13 usinas é 6.977 MW
- Adesão ao Novo Mercado

2007
- Aquisição da Seiva Part, dando direito para implementar e explorar usina termelétrica de até 540 MW em RS
- Aprovada a aquisição de CESS, titular da concessão do UHE São Salvador que terá capacidade instalada de 243 MW
- Aquisição da Ponte de Pedra Energética que detém a concessão da UHE Ponte de Perda de capacidade instalada de 176 MW
- Capacidade de fornecimento chega a 5.918 MW (abaixo de 2006!)

2008
- Cancelado o leilão de privatização da Cesp, que contava com a participação da Tractebel.

Ultimos Resultados

Ano de 2007

Energia vendida é inalterada

Em 2007 a produção de energia elétrica da Tractebel foi de 33.858 GWh (3.865 MW médios), sendo 28.858 GWh (3.294 MW médios) provenientes das hidrelétricas e 5.000 GWh (571 MW médios) supridos de fontes termoelétricas. A produção representa um aumento de 58,6% com respeito ao 2006. O avanço se deve a melhores condições hidrológicas - no ano anterior houve estiagem na Região Sul do país - e maiores exportações para a Argentina. Embora a produção maior tenha permitido a redução na compra de energia de terceiros a venda total de energia no ano, de 32.800 GWh (3.744 MW médios), foi parecida com o ano anterior.

Tarifa impulsiona receita

Apesar da estabilidade no volume de energia vendida, a receita bruta da Tractebel expandiu 12,0%, se beneficiando de um aumento médio da tarifa da mesma porcentagem. O lucro líquido, entretanto, cresceu somente 6,8%. Dois fatores foram responsáveis pela disparidade: a base do cálculo - o lucro de 2006 - foi inflada por um ganho em ação judicial; e houve forte aumento no Imposto de Renda em 2007, em parte causado pelo reconhecimento de um ganho fiscal extraordinário.

Retorno fabuloso?

O impacto desses fatores sobre o lucro foi amenizado pelo fato que o custo de bens e serviços vendidos praticamente não se alterou de um ano para outro. Essa estabilização tem três componentes: a redução na compra de energia de terceiros; o valor menor das diversas "transações no âmbito da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica"; e a queda, gerada pela valorização do real, no valor de empréstimos denominados em moeda estrangeira. No final a empresa apresentou um retorno de 37,1% sobre seu patrimônio líquido do fim do ano, 1,7 pp acima do retorno de 2006.

Esse retorno fabuloso é consistente? As particularidades do segmento da geração de energia complicam o entendimento do negócio da empresa, dificultando a identificação de efeitos não recorrentes. Mesmo assim, parece que o impacto cumulativo dos efeitos não recorrentes do ano foi de reduzir o lucro líquido, não aumentá-lo.

Endividamento moderado

O endividamento total da empresa representa 64%, e o endividamento líquido 36%, do patrimônio líquido da empresa. Com as despesas financeiras cobertas mais de 7 vezes, as cifras são significantes mas não exageradas. Empréstimos em moeda estrangeira representam 17% do patrimônio líquido.

Payout de 90%!

Nos últimos dois anos a empresa distribuiu mais de 90% de seu lucro como dividendos. A demonstração do fluxo de caixa mostra que, sem financiamentos adicionais, a empresa teria um pequeno saldo de caixa negativo. Isto é: o payout está no limite do viável.

Novas aquisições

Em 2007 três aquisições se destacaram:

- A Cia Energética São Salvador, responsável pela construção e futura operação da hidrelétrica de mesmo nome de 243 MW em Tocantins, com início de produção previsto para 2009. A usina for adquirida da controladora da empresa.

- A UHE Ponte de Pedra de 176 MW, na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que opera comercialmente desde 2005.

- O projeto Seival, no Rio Grande do Sul, que acrescentará até 540 MW à capacidade instalada da empresa quando entrar em operação em 2012.

Controle e Administração

Controlada pelo grupo Suez

O controle está nas mãos da Suez Energy South America - SESA que detém 68,7% das ações. A SESA, por sua vez, é controlada do grupo Suez, sediado na France. Suez é um dos grupos multinacionais mais antigos do mundo.

Com relação à administração da empresa temos, nos postos principais, Maurício Stolle Bähr como presidente do conselho e Manoel Arlindo Zaroni como diretor presidente.

Planta e Participação de Mercado

6% da geração brasileira

De acordo com informações da ANEEL, a Tractebel é a maior geradora de energia elétrica do setor privado no Brasil em termos de capacidade instalada e energia assegurada. A capacidade instalada totalizava 5.918 MW no fim de 2007, dos quais 79,5% oriundos de usinas hidroelétricas e 20,5% de termoelétricas, o que correspondia a cerca de 6% do parque gerador de energia brasileira.

Parque gerador:

EM OPERAÇÃO:

- Hidroelétricas

UHE Cana Brava - GO (450 MW)
UHE Itá - SC/RS (1.127 MW*)
UHE Machadinho - SC/RS (404 MW*)
UHE Passo Fundo - RS (226 MW)
UHE Salto Osório - PR (1.078 MW)
UHE Salto Santiago - PR (1.420 MW)

* Representa a parte da Tractebel

- Termoelétricas

Complexa Termoelétrico Jorge Lacerda - SC (857 MW)
Unidade de Co-geração Lages - SC (28 MW)
UTE Alegrete - RS (66 MW)
UTE Charqueadas - RS (72 MW)
UTE William Arjona - MS (190 MW)

AGUARDANDO APROVAÇÃO DA AQUISIÇÃO:

UHE Ponte da Pedra - MS/MG (176 MW)

EM CONSTRUÇÃO:

UHE São Salvador - TO (243 MW) - start-up em 2009

EM CONSTRUÇÃO PELO GRUPO SUEZ:

UHE Estreito - TO (1.087 MW) - start-up em 2010

Transferência da parcela da SUEZ para a Tractebel Energia deverá ocorrer no primeiro semestre de 2008.

DIREITOS DE IMPLANTAÇÃO:

UTE Seival - RS (540 MW) - start-up em 2012

Manutenção da taxa de expansão ...

Se os cronogramas forem mantidos as usinas já em construção, ou com direitos de implantação e exploração assegurados, permitirão a manutenção da taxa de expansão de capacidade de cerca de 5% aa durante os próximos 5 anos e meio.

... e disponibilidade para futuros contratos

A Tractebel está com praticamente toda sua disponibilidade de energia contractada até 2010. A partir de 2011, prevendo um aumento no preço de energia a empresa planeja ter 20-25% de sua desponibilidade descontratada.

Tractebel - parte 2

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