CHECK-UP DA EMPRESA
Schulz: contra indicações sumiram

Código: SHUL4
Data Base: 16/09/16
Preço da ação PN: R$ 5,58 Número de ações: 63,57 MM

Ibovespa: 57079
US$ 1,00: R$ 3.27

Valorização em 2016: 43.8%
Último Resultado: Primeiro Semestre de 2016

Setor: Bens de Capital
Produtos/Serviços Principais: Autopeças, compressores e ferramentas.

Componente do setor de Bens de Capital, de fortes características cíclicas, a Schulz foi impactada pela recessão atual. Com a economia num ponto de inflexão, prevemos a retomada pela empresa, ao longo dos próximos 4 anos, de seus bons retornos anteriores. A recuperação será alavancada pela forte queda da dívida da empresa nos últimos anos.

Como estimativas do preço justo da ação sugerem que seu preço atual em bolsa apresenta desconto de aproximadamente um terço, recomendamos a compra do papel. Apesar da forte valorização já contabilizada pela ação em 2016, acreditamos que qualquer renovação do rali atual do mercado levará junto a ação da empresa.

Introdução

Dívida e ação despencaram

Ao analisar a empresa pela primeira vez em 28/03/13 ficamos impressionados pelo crescimento rápido da receita e a conquista da liderança no mercado latino-americano de compressores. Ficamos menos comovidos com a dívida alta e a pequena margem de segurança oferecida pela ação.

Três anos e meio depois as contra indicações sumiram. Tanto a dívida quanto o preço da ação despencaram, com os índices dívida líquida/patrimônio líquido e o preço/patrimônio líquido cedendo dois terços de seus valores. É certo que receita e lucro caíram cerca de 30% como resultado da recessão, mas estamos em ponto de inflexão do cíclo econômico.

O papel da Schulz já valorizou 44% em 2016. Há espaço para novos avanços?

Tabela de Dados


                                               (milhões de dólares ajustados)               
                                                                                            
Ano            2004  2005  2006  2007  2008  2009  2010  2011  2012  2013  2014  2015  2016P
=========================================================================================== 
PIB Real*       5.7   3.1   4.0   6.0   5.0  -0.2   7.6   3.9   1.8   2.7   0.1  -3.8     - 
=========================================================================================== 
Receita Liq.    141   157   159   177   206   148   225   248   216   256   217   173  150?
Lucro Liquido     5     5     5    13    -5    14    18    17    15    19    16    13    11
Pat.Liquido      42    45    47    55    42    84    92   100   105   113   118   117   118
No.Acoes MM    1026  1026  1026    10    13    13    64    64    64    64    64    64    64
-------------------------------------------------------------------------------------------
Lucro/P.Liq. % 12.4  12.0  10.4  23.1 -12.9  16.5  19.5  17.4  14.6  17.1  13.6  11.0   9.6
Preco/Lucro x   0.0   0.0   0.0   0.0 -16.6   9.6  12.1  13.0  11.2  10.7   6.2   5.1   8.2
Preco/P.Liq. %  0.0   0.0   0.0   0.0   214   158   236   226   163   184    84    56    78
Margem Liq. %   3.7   3.4   3.1   7.1  -2.7   9.3   8.0   7.0   7.1   7.6   7.4   7.4     -
Yield (Divi/Preco) %                                      1.8   2.1   2.2   3.5   4.2   2.9
Payout (Divi/Lucro) %                                          23.7  23.7  21.9  21.8  23.6
Lucro/Cap.Invest. %     -     -  10.5  -3.7     -  10.1   8.3   7.7   9.7   8.8   8.0     -
Liquidez Corrente x   1.7   1.2   1.2   1.4 : 1.8   1.9   1.7   1.7   2.8   2.4   2.9     -
Div.Liq/Pat.Liq. %    101   132   119   246 :  95    93   109    90    76    54    38    22
------------------------------------------------------------------------------------------- 
P - Projetado   * BACEN                                                                     
Notas: Retorno/Patrimonio Liq baseado no ultimo PL disponivel (e nao, necessariamente, no   
PL do inicio do ano); Preco/Lucro baseado no preco do fim do ano para periodos encerrados   
e no preco atual para periodos nao encerrados; valores ate 31/12/98 convertidos em US$      
pelo cambio do fim do ano em questao, valores a partir de 31/12/98 convertidos pelo cambio  
do 31/12/98 (US$1=R$1,21), apos reajustamento pela inflacao. Ha descontinuidade de          
patrimonio liquido e lucro a partir de 2010 devido a adocao das regras de IFRS. Somente as  
receitas e os indicadores financeiros se referem aos balancos consolidados.                 

Últimos Resultados

Primeiro Semestre de 2016

Queda de custos não acompanha receita

Comparando o primeiro semestre de 2016 com o mesmo período de 2015, temos declínio (nominal) de 8,6% na receita consolidada. Entre as deduções, o corte de 10,2% nas Despesas Operacionais, e as fortes reduções nas Despesas Financeiros e no Imposto de Renda, não foram suficientes para contrapor a contração de somente 3,8% no Custo de Produtos Vendidos. O resultado foi a queda de 18,9% no lucro líquido.

As vendas da Divisão Automotiva caíram 12,7% no segundo trimestre de 2016 comparadas com o mesmo período de 2015. No primeiro trimestre houve queda de 4,4%, ano sobre ano. Na mesma base as vendas da Divisão Compressores no segundo trimestre subiram 4,9% após uma queda de 19,8% no trimestre anterior. A Schulz não detalha a comparação semestral.

A empresa também não revela, diretamente, a distribuição da receita entre as Divisôes Automotiva e Compressores. Estimamos que as vendas da primeira representaram 65% do total no segundo trimestre de 2016.

A recuperação do real atingiu as exportações cuja porcentagem da receita bruta caiu de 34% no primeiro trimestre deste ano para 29% no segundo. No segundo trimestre de 2015 a porcentagem era de 35%.

Shanghai Schulz

Desde nossa análise original a empresa acrescentou ao sua Breve História o seguinte:

"O ano de 2014 ficou marcado com a consolidação do escritório na China, que a partir de maio desse ano começou a operar como uma Trading, com o nome de Shanghai Schulz Machinery."

Análise de Múltiplos

Alerta de sempre

Como sempre, alertamos que a Tabela de Dados é sujeita a todo tipo de distorção, com destaque para os efeitos da inflação, variações cambiais e alterações no regime contábil. Aqui estamos mais interessados em tendências e ordens de grandeza do que números precisos. Para facilitar a comparação com o período anterior, usamos "dólares ajustados" (explicados em nota abaixo da Tabela) para os anos a partir de 1999, fortemente impactados pela desvalorização.

Não se deve atribuir importância excessiva à previsão de lucro para 2016, feita parcialmente por computador.

Retorno, preço e dívida em queda

Na Tabela abaixo comparamos os indicadores atuais da Schulz com suas médias passadas e com as médias de nossa base de dados, o "mercado". Como a base de dados contém uma única outra empresa do setor de Equipamentos Mecânicos (a Ind. Romi) deixamos de comparar a Schulz com suas médias. Limitamos a análise aos últimos 7 anos, período de margens relativamente estáveis.

Tabela de Análise de Indicadores

                    
                                                                                          
                                       A                 B                 C              
                                                                                          
                     Shulz      Shulz  Desconto    Setor  Desconto    Mercado Desconto    
            <>       Atual      Média  /Prêmio     Atual  /Prêmio      Atual  /Prêmio     
                                7 Anos     %                %                   %         
     ---------------------      ---------------    ---------------    ----------------    
     Lucro/P.Liq   %   9,6      15,7     -39          -       -       11,6     -17        
     Yield         %   2,9       2,8*     +4          -       -        2,8      +4        
     ---------------------      ---------------    ---------------    ----------------    
     Preço/Lucro   x   8,2       9,7     -15          -       -       15,6     -47        
     Payout        %    24         -       -                             -       -        
     Preço/P.Liq   %    78       158     -51          -       -        225     -65        
     ---------------------      ---------------    ---------------    ----------------    
     Dív.Liq/P.Liq %    22        79     -72          -       -        118#      -        
     ---------------------      ---------------    --------------    -----------------    
           Desconto (-)   Prêmio (+)     (*) Média de 5 anos     (#) Fim de 2015          
                                                                                          

Com o retorno sobre patrimônio atual 39% abaixo da média dos últimos 7 anos foi inevitável uma queda no preço da ação. A comparação do preço/patrimônio líquido atual da Schulz com sua média dos últimos 7 anos mostra um desconto de 51%. No caso do P/L a mesma comparação indica um desconto de somente 15%.

Os descontos são conservadores porque as médias estão comprimidas pelos baixos valores dos indicadores nos anos de recessão. Se excluirmos os dados de 2014 e 2015, os anos em questão, os descontos aumentam para 60% e 28%, respectivamente.

Desconto é medida de valorização

Os descontos são uma reação natural a um período de desempenho fraco. O desempenho da Schulz possui forte correlação com a ciclo econômico, onde uma fase curta de baixa teoricamente segue uma fase longa de alta. Assim, no momento atual de inflexão, podemos interpretar os descontos como medida da valorização potencial da ação.

Maior potencial de retorno

Nos 7 anos considerados observamos uma melhora surpreendente na solvência da empresa, com a dívida líquida/patrimônio líquido atual mais de dois terços abaixo de sua média e em seu ponto mais baixo de 16 anos. Despesas financeiras mais baixas aumentam o teto do retorno potencial.

Cálculo do Valor Intrínseco

Ponto de inflexão do ciclo

Após 15 anos de bom crescimento a receita da Schulz entrou em declínio a partir de 2014, puxando junto o lucro. Os últimos três anos deixam claro a dependência da Schulz do ciclo econômico. Sem a recuperação do mercado doméstico, fonte de 71% da receita atualmente, não haverá melhora nos resultados da empresa. Mas, ao cabo de três anos de PIB em queda ou estagnado, e com um governo mais racional em poder, apostamos no fim de 2016 como ponto de reversão do ciclo.

É o pano de fundo que vislumbramos ao estimar o valor intrínseco da empresa, usando o Método de Fluxo de Caixa Descontado - Modelo Dividendo. Para a previsão de lucro partimos do lucro estimado para 2016 de R$ 43MM e supomos que o retorno da Schultz volte, em 4 anos, para 90% do retorno médio dos últimos 7 anos. Essa premissa implica em crescimento de lucro de 10% aa de 2017 a 2020.

Receita cresceu 9,7% aa durante 16 anos

O crescimento sustentável do lucro nos anos seguintes é mais difícil de estimar. Uma sinalização é o fato que, nos 16 anos terminando em 2013, a receita cresceu a uma taxa de 9,7% aa, se expandindo 12,3% aa na primeira metade do período e 6,5% aa na segunda.

A inconsistência do registro inviabiliza cálculos semelhantes para o lucro. Embora tenham havido retorno médio de 15,7% e margens consistentes ao longo dos últimos 7 anos, 1997 a 2002 foram anos de prejuízos e lucros marginais. Lembramos que Schulz é uma firma relativamente recente que só obteve registro em bolsa em 1994.

Para melhor estudar a questão preparamos a análise que segue:

Análise de Sensibilidade

                      

                     Crescimento Rápido Real Após 4 Anos de 10% aa     
                                                                       
    	 	            <>      4%     5%     6%     7%            
 		           ---------------------------------           
                           3,0%     25     31     38     45            
   Crescimento Perpétuo           ..............                       
      Real de Lucro        3,5%   : 45     52  :  60     68            
                                  :............:                       
                           4,0%     74     83     93    103            
                                                                       
                           4,5       -    135    148    164            
                           ---------------------------------           
      Payout = 22%   Preço Atual = R$ 5,58   Taxa de Desconto = 6,0%   

Margem de segurança atraente

Verificamos que a combinação de crescimento rápido de 4%-5% aa do quinto a décimo ano, combinado com crescimento perpétuo de 3,5% aa a partir do décimo primero ano, produz margens de segurança de 44%-52%, uma faixa atraente. Considerando o crescimento histórico da receita essas cifras parecem razoavelmente realistas.

Tabela de Premissas e Resultados


              
                                             A       B        
                                                              
                       Taxa de Desconto:    6,0%    6,0%      
            Lucro Base (12/2016) (R$MM):      43      43      
           Taxa de Crescimento   4 anos:   10,0%   10,0%      
           Taxa de Crescimento   6 anos:    5,0%    4,0%      
           Taxa de Crescimento Perpétuo:    3,5%    3,5%      
                                 Payout:     22%     22%      
                                                              
     Valor de Mercado da Empresa (R$MM):     362     362      
     Valor Intrínseco da Empresa (R$MM):     549     522      
                   Número de Ações (MM):   63,57   63,57      
                       Preço Atual (R$):    5,58    5,58      
                  Preço Intrínseco (R$):    8,48    8,07      
                    Margem de Segurança:     52%     45%      
                               Desconto:     34%     31%      

Discussão

Grandeza dos descontos da mesma ordem

Se excluirmos das médias os indicadores dos últimos três anos de recessão na Análise de Múltiplos, os descontos verificados na ação de 28%-60% são da mesma ordem de grandeza dos apresentados pelo Cálculo do Valor Intrínseco de 31%-34%.

Aposta de risco baixo

Esses descontos têm como premissa que a fase atual de baixa do desempenho da empresa, consequência da recessão econômica brasileira, será superada nos próximos 4 anos. Consideramos que seja uma aposta de risco baixo, especialmente quando levarmos em conta que o índice de solvência da empresa se encontra atualmente no nível mais baixo de 16 anos.

Valorização próxima depende do mercado

Dado o horizonte um tanto distante da volta da Schulz à normalidade, e o fato que sua ação já valorizou 44% em 2016, quais são as perspectivas de uma redução adicional do desconto observado?

A melhora nos resultados da empresa deve ser gradual. O único gatilho que vimos no fururo próximo é uma eventual retomada do rali do mercado como um todo. Esta, por sua vez, depende em boa parte do sucesso do governo em implementar medidas de reajuste. Mas não devemos esquecer o tremor internacional esperado quando o Federal Reserve inicia - provavelmente em dezembro - a subida dos juros americanos.

Conclusões e Recomendação

Antes da retração dos últimos três anos, a receita da Shulz, apesar de tendência de desaceleração, cresceu à média de 9,7% aa ao longo de 16 anos. A segunda parte deste período também viu bons retornos e margens. Mas os anos de prejuízos e lucros marginais no período que seguiu a listagem da empresa em bolsa, em 1994, inviabilizam estimativas consistentes de crescimento do lucro.

Componente do setor de Bens de Capital, de fortes características cíclicas, a Schulz foi impactada pela recessão atual. Com a economia num ponto de inflexão, prevemos a retomada pela empresa, ao longo dos próximos 4 anos, de seus bons retornos anteriores. A recuperação será alavancada pela forte queda da dívida da empresa nos últimos anos.

Estimativas do preço justo da ação, baseadas no cenário descrito, sugerem que seu preço atual em bolsa apresenta um desconto de aproximadamente um terço, cifra apoiada por análise dos indicadores de investimento. Em função da margem de segurança implícita na faixa de 50% recomendamos a compra da ação. Apesar do horizonte de investimento ser de longo prazo, e da forte valorização já contabilizada pela ação em 2016, acreditamos que qualquer retomada do rali atual do mercado no curto prazo levará junto o papel da Schulz.

Nota Importante: De acordo com nossa política de transparência, informamos que o responsável por Ação&Reação administra uma carteira que detém uma posição da Schulz.

Mande sua opinião!
E-Mail

Primeira Página