Magnesita
Data: 01/10/99
Preço do PN por 1000 ações: R$2,25 (US$1,15) Número de ações: 41933,23M
Setor: Mineração
Produtos/Serviços Principais: Refratários para fornos industriais; sínter magnesiano
Praticamente sem dívida externa, e com 25% de suas receitas agora vindas das exportações, a firma está lucrando fortemente com a desvalorização. Só que, com uma alta de somente 4% em dólar em 1999, a nova situação ainda não é plenamente refletida no preço da ação. Com liqüidez de negociação razoável, há grande possibilidade de uma alta de 30-50% no curto a médio prazo. E com caixa líquida por ação semelhante ao preço da ação, é impressionante constatar que as minas e fábricas estão quase de graça! Recomendamos.
Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999P
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Receita Liquida (US$M) 245 243 279 287 273 -
Lucro Liquido (US$M) 15 33 15 25 25 23
Patrimonio Liquido (US$M) 202 241 235 236 237 248
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Retorno/Patrimonio Liq (%) 7.3 13.6 6.4 10.5 10.5 9.0
Preco/Lucro (x) - 2.6 5.8 2.5 1.9 3.4
Preco/Patrimonio Liq (%) - 35.9 37.1 26.0 19.6 31.0
Margem Liquida (%) 6.0 13.5 5.4 8.6 9.1 -
Yield (Dividendo/Preco (%) 7.1
Payout (Dividendo/Lucro) (%) 24.6
Liquidez Corrente (x) - 2.3 2.0 2.6 2.8 -
Divida Liquida/Patrim.Liq (%) - - -23 -26 -25 -
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P - Projetado Retorno/Patrimônio Liq baseado no ultimo PL disponível do ano (e não do
inicio do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para períodos encerrados e no preço atual
para períodos não encerrados; dados até 31/12/98 convertidos em US$ pelo câmbio do fim do
ano em questão, dados a partir de 31/12/98 convertidas pelo câmbio do 31/12/98 (US$1=R$1,21),
após reajustamento pela inflação. Receitas e indicadores financeiros se referem aos balanços
consolidados.
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O bisneto de Prometeu
O rei Heleno, neto do deus Prometeu e ancestral dos gregos, teve um filho chamado Aeolus. Pois bem, Aeolus foi rei de Magnésia. Mais tarde encontrou-se magnesita no região, mas não é de se estranhar considerando que o elemento magnésio constitui 2,5% da crosta da terra. Da Grécia antiga para Bahia moderna é uma distância e tanto, mas ligação, mesmo tênue, há.
Achados e perdidos
Ignorando o alerta da nossa TOP20, e apesar de suas conexões clássicas, desprezamos a Magnesita S.A., uma firma familiar, mineradora de magnesita e produtora de refratários. Até nos darmos conta que a mineradora não possui dívida líquida (ao contrário, tem caixa líquida), tem dívida externa insignificante (em torno de 5% do patrimônio líquido) e agora recebe aproximadamente 25% de seu faturamento em moeda estrangeira. Quer dizer, mesmo que isso só vai ficar patente no ano que vem, a companhia está se beneficiando fortemente da desvalorização. Como, em dólar, a ação da firma só subiu 4% em 1999, farejamos uma oportunidade.
Líder no mercado doméstico
Os refratários produzidos pela Magnesita são utilizados no revestimento de fornos industriais que trabalham a temperaturas elevadas. A empresa, criada em 1939, domina o ciclo inteiro da produção. Minério de magnesita, obtido de suas jazidas em Brumado, Bahia, é convertido em sínter magnesiano em usinas localizadas perto das minas. Além de ser o principal produto de exportação, o sínter é levado para o principal parque fabril da empresa em Contagem, Minas Gerais, onde é usado para produzir refratários em diversas formas: tijolos, massas, argamassas e concretos. Vendas para CST, Usiminas e Cosipa representam 36% da receita líquida. No Brasil a Magnesita é líder no fornecimento de refratários, com 53% do mercado.
Gangue de 12
Em 1998, mais que metade do lucro da Magnesita veio de 11 controladas. Entre estas RISA - Refratários e Isolantes, CEPALI - Cerâmica de Pastilhas e REFRATEC - Produtos Eletrofundidos, MSA - INFOR Sistemas e Automação e MONTEC - Montagens, Construções, Indústria e Comércio são as mais importantes.
A grande família Guimarães
Como praticamente todo mundo no conselho de administração, e a maioria da diretoria, leva o nome Guimarães, conclui-se que a empresa é familiar. Uma firma chamada Partimag, que tem pelo menos um Guimarães como acionista, possui 50,4% das ações ordinárias da Magnesita, enquanto mais dois acionistas individuais Guimarães têm outros 15,1%.
Crescimento refratário
Não temos uma série completa de dados históricos sobre a firma ou seu mercado, mas uma coisa parece clara: trata-se de uma firma de crescimento lento. Enquanto a companhia vendeu uma média de 260 mil toneladas entre 1990 e 1992, entre os mercados doméstico e externo, a média de 1997 e 1998 era de 304 mil - um aumento de 2,7% ao ano, no máximo. Em contrapartida, o crescimento de receita no período era, aparentemente, mais que o dobro. Embora não dá para tirar conclusões definitivas, são indicações importantes.
Nadando em dinheiro
O registro dos anos mais recentes, exibido na tabela, não altera esta impressão inicial. O crescimento de receitas é lento, e de lucros quase inexistente. Os indicadores tanto de preço/patrimônio líquido quanto de preço/lucro são baixos e variam pouco. Mais animadora é a alta liquidez e a ausência de dívida líquida. De fato, a Magnesita possuiu caixa líquida equivalente a 24% do patrimônio líquido no fim 1998
Marcha lenta
Para chegar a um valor para a empresa precisamos de duas estimativas: de uma base de lucro e uma estimativa de crescimento de lucro ao longo dos anos. A segunda é mais fácil. Como o setor siderúrgico é o principal cliente da Magnesita, absorvendo 80% por volume (a indústria de cimento/cal é responsável por outros 10%), e como não temos nenhuma razão para supor que o papel de seu produto na indústria vá diminuir, vamos utilizar a taxa de crescimento que utilizamos em nossa análises de empresas siderúrgicas: 5%.
Mais dólares a custo zero
A base de lucros é o ponto crítico. Certamente é maior que o lucro de 1998 porque este não considera a desvalorização, e foi prejudicado pelos preços excepcionalmente baixos recebidos pelo sínter exportado. É aqui que entra o pulo do gato: sem dívida significativa em dólar, e utilizando poucos insumos importados, praticamente todo o ganho com a desvalorização - quase 50% sobre o valor exportado - vai diretamente para lucros antes do imposto de renda. É interessante observar que o lucro do segundo trimestre - o primeiro não influenciado por fatores não recorrentes - mostra um aumento de quase exatamente 50% sobre o segundo trimestre de anos anteriores.
Upside de 30%
Vamos ser relativamente conservadores e imaginar que o retorno sobre patrimônio líquido, que chegou a quase 10% entre 1994 e 1998, aumenta para 13,5% no próximo ciclo industrial. E vamos adotar nossa velha taxa de desconto de 13%. Conjugando estes parâmetros com o Método de Fluxo de Caixa Descontado, obtemos um valor "intrínseco" para a empresa de US$96M, ao câmbio do fim de 1998*. Isso é um pouco mais de que 30% acima do preço atual (considerando 31% do patrimônio líquido do fim de 1998).
(* Para permitir alguma comparação com números históricos, que registramos em
dólar, mostramos os dados para 1999 ao câmbio do fim de 1998: US$1,00 = R$1,21. Calculado a partir de um lucro (teórico) para 1998, o valor estimado da empresa também embute este câmbio. Para convertê-lo em reais simplesmente divida por 1,21.)
Lucros irresistíveis
Levando em conta a estabilidade dos dados históricos - quer dizer, o grau de incerteza é pequeno - acreditamos que a "margem de segurança" de 30% seja adequada para justificar uma compra da ação. De fato, como o preço/patrimônio líquido é de somente 31% (contra um máximo histórico de 203% e um mínimo de 16%), e lucros em crescimento são irresistíveis ao investidor, não nos surpreenderíamos se a ação subisse 50% no curto a médio prazo.
Minas e fábricas de graça
Mas não deixe de notar um aspecto impressionante da Magnesita. Considerando que a firma possui caixa líquida equivalente a 25% de seu patrimônio líquido, e o investidor só precisa desembolsar 31% do patrimônio líquido para comprá-lá, ele está trocando seu dinheiro por praticamente o mesmo dinheiro na caixa da companhia - e levando as minas e fábricas de graça. Não é o toque do rei Midas mas não é nada mal.
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