FLASH DA EMPRESA
Forjas Taurus: armas, lucros e ética
Data: 08/03/00
Preço do PN por 1000 ações: R$0,48 (US$0,27) Número de ações: 86.580M
Setor: Militar Produtos/Serviços Principais: Armas leves, capacetes para motociclistas, ferramentas manuais

A desvalorização e a recuperação da economia darão um impulso a uma trajetória de crescimento e rentabilidade consistente. Há riscos - o principal é a possibilidade da imposição de novas restrições sobre o mercado doméstico de armas - mas nada que indicadores de mercado atraentes e uma "margem de segurança" de 65% não cubram com folga. Se o mercado continuar em alta espere um ganho de capital de talvez 40% até o fim do ano; se retroceder espere ótimos dividendos.

Ano                    1993  1994  1995  1996  1997  1998 1999P  2000P
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Receita Liquida          86   108    85    75    81    90    83?     -
Lucro Liquido             6     9    -1     1     6    11    15     18
Patrimonio Liquido       71   102   109    98    95    94   107    107
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Lucro/Pat. Liq. (%)     9.2   8.5  -0.6   0.9   5.9  11.3  14.0   17.0
Preco/Lucro (x)           -     -  34.4  23.8   3.3   1.6   2.6    1.9
Preco/Pat.Liq.(%)         -     -  20.5  20.4  19.5  18.2  36.1   32.0
Margem Liquida (%)      7.0   8.3  -ve    1.1   6.9  11.9     -      -
Yield (Divi/Preco (%)                                             14.6
Payout (Divi/Lucro) (%)                                           28.0
Liquidez Corrente (x)     -     -     -   2.5   2.3   2.7     -      -
Divida Liq./Pat.Liq.(%)   -     -     - -16.0   2.0   5.0     -      -
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P - Projetado         Retorno/Patrimônio Liq baseado no ultimo PL disponível do ano (e não do
inicio  do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para períodos encerrados e no preço atual
para períodos não encerrados; dados até  31/12/98  convertidos  em  US$ pelo câmbio do fim do
ano em questão, dados a partir de 31/12/98 convertidas pelo câmbio do 31/12/98 (US$1=R$1,21),
após reajustamento pela inflação. Receitas e indicadores financeiros se referem aos balanços
consolidados.

Perigo de vida
Forjas Taurus começa com uma grande desvantagem, como Souza Cruz, Eternit e Brahma, seu produto principal - armas de fogo - pode ser nocivo à saude humana. Em função disso enfrenta a ameaça permanente da imposição de novas restrições, e sofre a rejeição de investidores "éticos". Fica até difícil torcer para uma grande expansão de vendas!

Lobby do mal?
Há atualmente diversas propostas de restrição às armas no Congresso. Uma propõe até "a proibição da fabricação, porte, uso e trânsito" de armas. No entanto, dado à força do lobby da polícia, sindicatos e indústria armamentista no Brasil, e às ameaças de retaliação da indústria americana, avaliamos que a possibilidade de mudança na situação é, por enquanto, pequena.

Baixo preço elimina desvantagem
Aprendemos com Benjamin Graham que poucas são as desvantagens que um preço suficientemente baixo não possa superar. E à primeira vista a ação da Taurus parece muito barata: qual a explicação de um preço/patrimônio de 32%, um preço/lucro de 1,9x e uma yield de quase 15%?
Desconfiamos que parte, pelo menos, é uma projeção de lucro excessivamente otimista para 2000. Mas um cálculo rápido do valor da firma, usando condições conservadoras, corrobora a impressão inicial.

Galpão de 10m2 ...
A história da companhia começou em 1937, num galpão de 10m2 em Porto Alegre, com João Kluwe Jr e companheiros fabricando "ferramentaria e dispositivos". Foi somente após o fim da Segunda Grande Guerra que a firma iniciou a fabricação de armas. Após passar pelo controle estrangeiro, foi renacionalizada pela Polimetal no fim dos anos 70. A subseqüente aquisição das fábricas no Brasil da IFESTEEL da Inglaterra e da Beretta da Itália trouxe know- how, capacidade e marcas.

... Vira grupo internacional
Em 1983 foram criadas Taurus Blindagens no Brasil e Taurus International Manufacturing em Miami. Em 1986 apareceu Taurus Ferramentas e 10 anos depois Tauron, um "joint venture" com um sócio estrangeiro. Uma aliança em 1997 permitiu o uso da marca da Rossi para revólveres. E em 1998 a controladora Forjas Tauras iniciou o fornecimento de autopeças e serviços de forjaria e tratamento térmico.

De armas a alicates
Taurus Blindagens (capacetes para motociclistas e outros, escudos anti- tumultos, coletes à prova de balas, etc.), com 60% do mercado doméstico de capacetes é a controlada mais importante e mais rentável do grupo. Em segundo lugar vem Taurus Ferramentas (alicates, chaves de fenda, etc.) que possui 20% do mercado de ferramentas manuais. E em terceiro lugar vem Taurus Holding de Miami cuja controlada principal é a Taurus International Manufacturing (fabricação, importação e distribuição de revólveres e pistolas). As operações da afiliada Tauron (fabricação, importação e exportação de ferramentas manuais, elétricas, de medição, de jardim e autopeças) estão ainda num estágio incipiente.

Grande exportadora
Em 1998, armas leves representaram 65% das receitas do grupo, capacetes para motociclistas 21%, ferramentas manuais 7%, autopeças forjadas 4% e coletes à prova de balas 3%. No terceiro trimestre de 1999, 72% das receitas da controladora vieram das exportações; praticamente todo o faturamento da Taurus Holding é em dólar.

Capacetes surpreendem
Nesta viagem pelo mundo da Forjas Taurus o que chama a atenção é a importância e rentabilidade para o grupo, não de armas, mas de capacetes. Capacetes para motociclistas são de longe o principal produto da Taurus Blindagens e esta controlada foi responável por quase 75% do lucro do grupo em 1998, mostrando a impressionante margem líquida (lucro líquido/receita líquida) de 38%.

Um múltiplo de 1,9x está muito barato
Vamos dar uma olhada nos indicadores mostrados em nossa Tabela de Dados. A taxa de retorno média apresentada pelo indicador lucro/patrimônio líquido nos 6 anos de dados firmes é de quase 6%. Nada especial.
Em relação ao preço/lucro, devido ao fraco desempenho em 1995 e 1996, não é muito útil comparar o indicador para 2000 com seus valores em anos anteriores. Se compararmos com o mercado em geral, no entanto, não há dúvida: um "múltiplo" de 1,9x está muito barato.

Posícão financeira bem tranqüila
Estamos em terreno mais firme ao analisar o preço/patrimônio líquido. Ao nível de 32% o indicador é 50% mais alto do que no fim dos anos 95-98; só que o retorno atual é 7-8 vezes maior. Conforme nosso sistema, o máximo atingido pelo razão preço/patrimônio líquido nos últimos 8 anos foi de 87%, com um mínimo de 11%.
Por fim, os indicadores sugerem que a ação, ao seu preço atual, está atraente. Vamos tentar quantificar isto melhor. Mas antes de passar adiante, observe que a posícão financeira da firma no fim de 1998 era bem tranqüila: praticamente não havia divida líquida, e os ativos de curto prazo superavam os passivos em 2,7 vezes.

Lucros crescendo a 10% a.a.
Além dos dados na tabela, temos à nossa disposição os números da Taurus desde 1988. Com estes, começamos a construir uma imagem mais consistente da firma. Primeiro verificamos um retorno médio de 6,5% a.a. ao longo do período. O único ano de prejuízos foi 1995. Mais interessante, após correções para minimizar distorções, descobrimos que as vendas cresceram a uma taxa de 5,5% a.a. e os lucros a 10% a.a. ao longo dos 11 anos.

Vale 65% mais do que o preço em bolsa?
Vamos tentar estabelecer um valor para a firma. Embora seja difícil identificar as condicionantes do mercado internacional de armas, e seus efeitos nos próximos anos, é inegável que o câmbio mais competitivo impulsionará as exportações e aumentará a contribuição da produção no exterior. No Brasil a retomada de crescimento econômico certamente beneficiará as vendas de capacetes e ferramentas. Em relação às perspectivas do mercado nacional de armas, imaginamos que, a despeito das discussões no Congresso, por enquanto pouca coisa mudará.
Nestas circunstâncias consideramos que seja razoável adotar como nossa base de lucros a média dos últimos 3 anos (para 1999 utilizamos o lucro de 9 meses anualizados) de quase US$11M, e um taxa de crescimento de lucros de 8% a.a. ao longo dos próximos 10 anos (seguido por uma taxa perpétua de 5% a.a.). Usando a taxa de juros de longo prazo de 12%, obtemos um valor para Taurus de R$68M (US$56M ao câmbio da tabela de 1,21). É 65% mais alto do que o preço atual cotado em bolsa.

Um ganho de capital de 40%
De onde vêm os riscos? Novas restricões sobre o mercado local de armas e um embargo das exportações pelos EUA; previsões excessivamente otimistas; pouco poder de mercado; baixa liquidez das ações (uma média de 7 transações por dia nas últimas três semanas); rejeição por investidores "éticos". Achamos que uma "margem de segurança" de 65% cobre tudo isso e ainda sobra espaço para um retorno bem razoável. Só que, como no caso de outros papéis de baixa liquidez, temos de estar preparados para receber parte de nosso ganho em forma de dividendos. Mesmo assim, se o mercado continuar em alta, é razoável esperar um ganho de capital de 40% até o fim do ano.

Armas e ética
É antiético investir em armas? Como bebida alcoólica e tabacco, a ameaça à sociedade depende de como são usadas. Incentivar a utilização de qualquer dos três através de publicidade sensacional, por exemplo, consideramos antiético. Mas produzir não. Há uma demanda legítima de instituições e indivíduos que é razoável satisfazer dentro de limites cuidadosamente definidos. Não temos uma arma em casa mas, enquanto houver sério risco de assalto, defendemos o direito de alguém possuir uma – bem longe do alcance das crianças. Só Gandhi para oferecer resistência pacífica.
Agradecemos a Paulo Cruz Lima que nos chamou a atenção para Forjas Taurus

Limitações dos dados apresentados

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