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Engie Brasil Energia (ex-Tractebel): baixo risco e altos dividendos compensam crescimento fraco
Código: EGIE3 Ibovespa: 72762 Valorização em 2018: -3,6% Setor: Energia
Ao longo da última década a Engie sofreu leve contração do lucro. Mas como a receita e capacidade instalada do período cresceram é razoável esperar - se o país escapar de uma nova recessão - alguma expansão do lucro no futuro.
Adotando premissas relativamente conservadoras estimamos que o preço justo da ação da empresa supera o preço atual em 29%.
Juntando a essa margem de segurança moderada a baixa ciclicidade e alto dividendo da empresa concluimos que a Engie é um interessante veículo de diversificação em um futuro próximo caracterizado pela indefinição política e econômica.
Introdução
Preço parou, mas bom dividendo
Ao voltar à Engie Brasil Energia após 6 anos ficamos surpresos ao encontrar o preço de sua ação praticamente inalterado. Não significa que investidores na empresa ficaram sem retorno. Afinal a Engie tem oferecido um dos maiores yields de dividendo do mercado. Só que seu lucro não cresce.
Perfil conservador
É exatamente o yield, junto com a baixa cicicidade de seu negócio, que nos leva da volta à empresa. Com a recuperação da economia desacelerando e os desajustes fiscais se avolumando procura-se investimentos com o perfil conservador, mas rentável, oferecido pela Engie.
Gráfico de Preço de 15 Anos
Tabela de Dados
Alerta
Alertamos que a Tabela de Dados acima é sujeita a todo tipo de distorção, com destaque para os efeitos da inflação, variações cambiais e alterações no regime contábil. Aqui estamos mais interessados em tendências e ordens de grandeza do que números precisos. Para facilitar a comparação com o período anterior, usamos "dólares ajustados" (explicados em nota abaixo da Tabela) para os anos a partir de 1999, fortemente impactados pela desvalorização.
Não se deve atribuir importância excessiva à previsão de lucro para 2018, feita parcialmente por computador.
Histórico (continuação do Histórico constante da análise de 25/04/08)
"Descarbonização, descentralização e digitalização"!
2008 - Incorporação da Companhia Energética Meridional
2009 - Início da operação da UHE São Salvador (243,2 MW)
2010 - Início da operação da PCH Areia Branca (19,8 MW)
2011 - Início da operação da UHE Estreito
2012 - Aquisição pela GDF SUEZ do saldo de 30% da International Power
2013 - Início da operação da UEE Trairí (25,4 MW) e UEE Guajiru (30 MW)
2014 - Início da operação das UEEs Fleixeiras I (30 MW) e Mundaú (30 MW) e da Usina Fotovoltaica Cidade Azul (3MWp)
2015 - O Grupo GDF SUEZ passa a se chamar ENGIE e a companhia, ENGIE Tractebel Energia
- Início da operação comercial do 5º turbo gerador da UTE Ferrari (15 MW)
2016 - A companhia passa a se chamar ENGIE Brasil Energia
2017 - Conclusão das obras de modernização da UHE alto Santiago (24,2 MW médios adicionais)
Controle e Administração
Controle externo, administração local
A Engie Brasil Part detém 68,7%, e o Banco Clássico 10,0%, das ações ordinárias da Engie Brasil Energia. Engie Brasil Part, por sua vez, é controlada integralmente pela Engie Energy International, subsidiária integral da francesa Engie SA, "maior produtor independente de energia do mundo".
O presidente do Conselho da Administração é Maurício Stolle Bähr e o diretor presidente Eduardo Antonio Gori Sattamini, ambos brasileiros.
Grupo e Negócios
Maior gerador privado
O grupo Engie Brasil Energia é o maior gerador privado do setor elétrico brasileiro, responsável por 7,2% da capacidade instalada do país.
O parque gerador chegou ao final de 2017 com 31 usinas e 9.588,8 MW de capacidade instalada operada, sendo 11 hidrelétricas, 4 termelétricas convencionais e 16 usinas complementares – 2 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), 9 eólicas, 3 a biomassa e 2 solares fotovoltaicas. Desses empreendimentos, 27 são controlados integralmente pela companhia, de modo que a capacidade instalada própria total somava 7.868,1 MW.
Entrada na transmissão
Em 2017, além da aquisição das UHEs Jaguara (424 MW) e Miranda (408 MW), anteriormente administradas pela Cemig, houve entrada no segmento de transmissão. Em leilão promovido pela Aneel foram arrematadas linhas de 1.050 km de extensão mais 5 subestações localizadas no Paraná.
Últimos Resultados
Ano de 2017
Evolução de Resultados Consolidados
Bom resultado parte de base fraca
O crescimento da receita se deve ao aumento da receita nas operações realizadas no mercado de curto prazo (especialmente na CCEE), ao maior volume de venda de energia, e à inclusão de receita resultante da operação das Usinas Hidrelétricas Jaguara e Miranda, adquiridas durante o ano. O aumento no resultado líquido parece muito bom mas tem como base de comparação o lucro de 2016, o pior resultado dos últimos 11 anos da empresa.
Primeiro Trimestre de 2018
Evolução de Resultados Consolidados
Novas aquisições turbinam receita
A maior receita se deve ao aumento na energia vendida, com destaque para contribuição, agora ao longo de todo o período, das recém adquiridas UHEs Jaguara e Miranda. Mas parte importante do Resultado Bruto (Receita - Custo de Vendas) foi absorvida pelo aumento nas Despesas Financeiras.
Análise de Múltiplos
Tabela de Análise: Descontos/Prêmios
Desconto de 19%
O retorno previsto para 2018 se assemelha à média de 12 anos. Por outro lado, tanto o preço/lucro ajustado quanto o preço/patrimônio líquido atuais apresentam um desconto de 19% com relação a suas médias de 12 anos.
Yield é destaque
O yield de dividendo é um dos destaques da Engie, superando em muito as médias tanto de seu setor quanto do mercado.
Aumento no endividamento
Embora o endividamento líquido no fim de 2017 tenha alcançado seu segundo nível mais alto de 12 anos essa medida de solvência da empresa não diverge muito dos índices do setor e do mercado como um todo. Por outro lado, como mostra Últimos Resultados - Primeiro Trimestre de 2018, o aumento nos empréstimos tem impacto imediato sobre a geração de lucro via a majoração dos despesas financeiras.
Cálculo do Valor Intrínseco
Realidade obriga revisão de previsão
Acionando o programa do site MoneyChimp empregamos o método Fluxo de Caixa Descontado - Modelo Dividendo para estimar o preço justo, ou intrínseco, da ação da Engie.
Mas é necessário, antes, rever as premissas para o crescimento futuro do lucro da empresa. Devido à dispersão de dados e fatores não recorrentes baseamos previsões anteriores no aumento histórico da capacidade instalada. Nossas análises a partir de 2008 estabeleceram previsões para o período "acelerado" de 10 anos na faixa de 4-5% aa com estimativas para perpetuidade ficando entre 3,5% e 4%.
Temos agora os dados reais do período objeto das previsões. Ao longo da última década, apesar da receita crescer a 3% aa e a capacidade instalada a pouco mais de 2% aa, o lucro, de fato, encolheu! Para ajudar a definir novas taxas de crescimento recorremos à Análise de Sensibilidade abaixo.
Taxa de desconto aumentada
Também é preciso alterar a taxa de desconto usada no cálculo. A taxa de 6% aa, utilizada durante os últimos 2 anos, praticamente não oferece folga com relação ao retorno real de 5,7% agora oferecido pela NTNB2026, base para nossa fixação da taxa. Na Análise que segue aumentamos a taxa de desconto para 6,7% aa, 1 pp acima dos juros da NTNB2026.
Análise de Sensibilidade - Preços Intrínsecos (R$)
Crescimento zero!
Como pode ser visto, no cenário imaginado a Análise indica que o preço atual de R$ 34,23 implica em nenhum crescimento da empresa no futuro. Por outro lado, se a receita e a capacidade mantiverem o ritmo de expansão da última década, é difícil imaginar que o lucro não reagirá.
2% com 1% mais provável
Consideramos crescimento futuro de 2% aa durante o período acelerado de 10 anos seguido por 1% aa em perpetuidade premissas razoavelmente conservadoras. A Análise mostra que essas taxas produzem um preço intrínseco de R$ 44,08, representando margem de segurança de 29% (R$ 44,08/34,23). É uma cifra interessante para uma empresa de baixo risco.
Tabela de Premissas e Resultados
Discussão
Conjuntura recessiva?
Consideramos o possível prolongamento da conjuntura recessiva no Brasil o fator principal ameaçando as premissas de crescimento da empresa. Mas tanto a baixa ciclicidade do setor elétrico quanto o alto yield de dividendo da empresa amenizam esse risco.
Tim Maia que fala
Além dos outros fatores citados por Tim Maia que tornam o Brasil um país complicado temos títulos sem risco do governo que, sim, apresentam risco. Nessas circunstâncias, com o futuro bastante nebuloso, é importante diversificar investimentos entre tanto a renda fixa quanto empresas de primeira linha. Acreditamos que a Engie satisfaz os critérios dessa segunda opção.
Conclusões e Recomendação
Ao longo da última década a Engie sofreu leve contração do lucro. Mas como a receita do período cresceu a 3% aa e a capacidade instalada a pouco mais de 2% aa é razoável esperar, se o país continuar a crescer, alguma expansão do lucro no futuro.
Adotando premissas relativamente conservadoras a estimativa do preço intrínseco da ação da Engie aponta um desconto de 22%, cifra parecida com o desconto de 19% identificado na Análise de Múltiplos.
O risco principal é o prolongamento da conjuntura recessiva no Brasil. Mesmo assim consideramos a Engie, com sua baixa ciclicidade, alto dividendo e margem de segurança moderada de 29%, interessante veículo de diversificação em um futuro caracterizado pela indefinição política e econômica.
Nota Importante: De acordo com nossa política de transparência, informamos que o responsável por Ação&Reação administra uma carteira que detém uma posição significativa da Engie.
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