CHECK-UP DA EMPRESA |
Engie Brasil Energia: dividendos elevados mas, com juros em alta, prefiram títulos do governo
Código: EGIE3 Ibovespa: 123906 Valorização em 2019: -2,3 % Setor: Energia Elétrica
Os resultados da Engie nos últimos 12 anos estão consistentes mas modestos: há baixo crescimento de receita e quase nenhuma crescimento real do lucro.
É o generoso yield de dividendos atual, junto com a baixa variação histórico do lucro, que fazem aplicações nos papeis da Engie competitivas com aplicações de renda fixa.
Juntando yield de dividendo e crescimento de lucro estimamos que investimento nas ações da empresa, neste momento, oferece um retorno de 10% aa acima da inflação e antes de eventuais impostos. Por sua vez, uma aplicação em título sem risco do governo de 5 anos ou mais, após as altas recentes, paga juros de inflação mais 6,5%, antes dos impostos.
Como o equity premium - o retorno adicional procurado tradicionalmente para equiparar investimento em ações a aplicações sem risco - gira em torno de 4%, a compra das ações da Engie está, neste momento, de atração limitada. Mas não totalmente contraindicada: para investidores existentes ainda sugerimos a manutenção do papel em carteira. Para novos investidores em ativos de baixo risco, no entanto, a melhor opção parece os títulos do governo.
Introdução
Risco atrapalhou operação!
No Check-Up de 08/11/19 apontamos a Engie, com seus altos dividendos, boa rentabilidade e baixa dispersão de resultados históricos, como alternativa às aplicações em renda fixa sem risco. Estimamos que o papel da Engie, aplicação de risco, ofereceu um retorno teórico de cerca de 7% acima da inflação enquanto um título do governo, sem risco, de 5 anos pagava juros reais de 2,4%.
Adicionamos ações da empresa à Carteira Concentrada de Buffet e nos 4 anos subsequentes os dividendos recebidos representaram um retorno anual, incluindo a inflação, de somente 6%. Foi o risco das ações, aqui manifestado em forma do impacto da Covid sobre o desempenho da Engie, que atrapalhou a operação. Pior, no caso de aplicações de longo prazo, apareciam oportunidades sem risco bem mais atraentes no quadriênio, com os juros nominais de títulos do governo chegando a mais de 10% aa. E ainda houve pequena queda no preço da ação!
De qualquer forma, é hora de revisitar a Engie a fim de avaliar se seus papéis ainda oferecem alguma atratividade.
Gráfico de Preço de 22 Anos
Fonte: Google
Tabela de Dados
Alerta
Alertamos que a Tabela de Dados acima é sujeita a todo tipo de distorção, com destaque para os efeitos da inflação, variações cambiais e alterações no regime contábil. Aqui estamos mais interessados em tendências e ordens de grandeza do que números precisos. Para facilitar a comparação com o período anterior, usamos "dólares ajustados" (explicados em nota abaixo da Tabela) para os anos a partir de 1999, fortemente impactados pela desvalorização.
Não se deve atribuir importância excessiva à previsão de lucro para 2024, feita parcialmente por computador.
Histórico (continuação do Histórico constante do Raio-X de 29/06/18)
Chegada de energia 100% renovável
2018 - Iniciada a operação remota integral do Conjunto Eólico Trairi pelo Centro de Operação de
Geração (COG) em Florianópolis
2019 - Início da construção do Conjunto Eólico Campo Largo – Fase II
2020 - Retidos parte dos dividendos complementares de 2019 para fazer frente à Covid-19
2021 - Concluída, junto com a WEG, a implantação do primeiro aerogerador brasileiro de grande porte (de 4,2 MW) integrado à usina fotovoltaica de Tubarão
2022 - Concluída a aquisição dos Conjuntos Fotovoltaicos Paracatu e Floresta de 59,1 MW
2023 - O Sistema de Transmissão Gralha Azul entra em operação integral a partir da energização do trecho que percorre a zona urbana e rural das cidades de Ponta Grossa, Imbituva e Irati
Controle e Administração
Controle francês
Os detentores principais das ações ordinárias da Engie são a Engie Brasil Participações Ltda, com 68,71% do total, e o Banco Clássico com 9,86%.
A Engie Brasil Participações é subsidiária indireta, via 5 níveis de controle(!), da francesa Engie SA da qual o estado francês possui 23,64%.
Maurício Stolle Bähr é Presidente do Conselho de Administração e Eduardo Antonio Gori Sattamini o Diretor Presidente / Superintendente.
Últimos Resultados
Ano de 2023
Evolução de Resultados Consolidados
Lucro impulsionado por Custos e Financeiras menores e equivalência da TAG
A forte queda no Custo de Vendas, com relação a 2022, se deve ao valor menor de compras de energia mas, principalmente, à redução do ritmo da construção da infraestrutura de transmissão. Como compras de energia menores significam vendas menores, e as despesas com construção são reembolsadas, os custos reduzidos tiveram como consequência a queda da Receita. Outro componente importante da queda da Receita foi a venda da Usina Termoelétrica Pampa Sul, finalizada em maio.
O aumento nas Receitas Operacionais, por sua vez, se deve ao aumento de 36% na equivalência patrimonial gerada pela subsidiária não consolidada Transportadora Associada de Gás (TAG). Não encontramos explicação pelo aumento.
Houve também queda nas Despesas Financeiras, resultado, em boa parte, da redução da dívida da empresa.
No final, a diminuição da Receita foi mais do que compensada pela redução no Custo de Vendas e nas Despesas Financeiras, e pelo aumento nas Receitas Operacionais, dando forte impulso ao Lucro Líquido.
Primeiro Trimestre de 2024
Evolução de Resultados Consolidados
Com venda de participação na TAG lucro explode
Mais uma vez a queda na Receita, na comparação com o mesmo trimestre de 2023, se deve à redução de preços e volumes, com destaque para o fim da contribuição da Usina Pampa Sul. Enquanto a queda no Custo de Vendas é compatível com a retração da Receita, o forte aumento nas Receitas Operacionais é resultado da contabilização da venda dos 15% das ações da TAG em janeiro.
A redução nas Despesas Financeiras é função tanto da redução da dívida quanto ao crescimentos das aplicações.
Como pode ser visto, foi a venda das ações da TAG a principal explicação pela explosão no Lucro Líquido do período.
Análise de Múltiplos
Patrimônio líquido baixo infla retorno e endividamento, e ...
Não há utilidade em comparar os múltiplos atuais com médias do passado da empresa ou do setor ou mercado: como vimos em Últimos Resultados os números, tanto de 2023 quanto do primeiro trimestre de 2024, estão destorcidos por fatores não recorrentes.
Há, no entanto, outras particularidades da Tabela de Dados que merecem comentário. Várias se originam no fato que a maior parte dos investimentos no setor elétrico ocorre no início dos projetos o que, com tempo, reduz significativamente a depreciação; outras no fato que o custo de vendas, no caso de energia hidroelétrica, eolica e solar, cujos insumos principais - após amortização da concessão - são de graça, ser baixo.
... custo de vendas baixo expande margem e payout
No caso da Engie há várias consequências: há o baixo valor do patrimônio líquido que resulta em altos índices na comparação com o lucro e a dívida líquida; e há o baixo valor do custo de vendas que aumenta a margem líquida e facilita um alto payout de dividendos.
Baixa elasticidade da demanda reduz dispersão de resultados
Outro fenômeno é a baixa dispersão da receita e lucro. Certamente os aspectos comentados acima contribuem para essa característica mas mais importante é a baixa elasticidade da demanda por energia elétrica.
Cálculo do Valor Intrínseco
Eventos não recorrentes dificultam premissa para lucro base
Ao procurar estabelecer premissas para o cálculo do valor intrínseco pelo método Fluxo de Caixa Descontado temos dificuldade em separar eventos não recorrentes do resultado de 2023.
Assim, para definir o lucro base deste ano resolvemos utilizar como referência o produto da multiplicação do patrimônio líquido do ano pela média do índice lucro líquido/patrimônio líquido dos 5 anos anteriores de 31,4%. Dá R$ 2.783 MM, bem abaixo do valor declarado de R$ 3.429 MM. Para captar eventuais desvios estendemos os cálculos a valores 10% maior e 10% menor desta cifra.
Crescimento do lucro se aproxima de zero
Estimamos o crescimento da receita real ao longo dos últimos 12 anos em 2,4% aa. Impactado pela Covid, e mesmo impulsionado pelo resultado de 2023, o crescimento do lucro no período se aproxima de zero (0,4% aa). Dando mais credibilidade à receita, chutamos expansão de 2,2% aa ao longo da próxima década, caindo para 1,5% a partir do décimo primeiro ano. Consideramos essas taxas realistas.
Taxa de desconto aumentada em meio ponto
Para payout escolhemos a cifra conservadora de 75%, 5 pontos abaixo da média histórica ponderada. Para taxa de desconto, por sua vez, definimos 6,5% aa. Esta taxa fica 0,5 pontos acima da taxa usada durante os últimos 2 anos e meio. Decidimos em um aumento após sinais que o ritmo de queda da nossa taxa de referência, a NTNB2045, atualmente em 6,5% aa, seria mais lento daqui para frente.
Tabela de Premissas e Resultados
Discussâo
Dividendos têm preferência
Dado a intensa atividade societária retratada no Histórico a estagnação do lucro até surpreende. Não examinamos a taxa de investimento da empresa mas o payout média ponderada de 80% sugere que dividendos têm tido preferência sobre reinvestimento.
Sem margem para agressivos
A faixa das Margens de Segurança obtida no segmento anterior, de 11%-36%, sugere que a ação da Engie oferece algum desconto neste momento. Por outro lado, o grau de incerteza da análise e o lento crescimento histórico da empresa deve jogar água fria sobre o entusiasmo de investidores mais agressivos.
Dividendos oferecem 10% mais a inflação
Melhor, é focar no yield. Se o lucro base estimado no Cálculo do Valor Intrínseco não for muito longe do lucro efetivo do ano de 2023, livre de efeitos não recorrentes, temos um yield para 2024 de cerca de 8% (em vez dos 10,2% da Tabela de Dados) mais a inflação. Juntando crescimento de pouco mais de 2% aa, temos um retorno, em termos de dividendos, de cerca de 10% aa em termos reais.
Sem margem para agressivos
No Check-Up de 08/11/19 tivemos previsão de retorno de dividendos, acima de inflação, de 7% aa e juros reais de 2,4% pagos por um título de 7 anos. Agora os dividendos oferecem, teoreticamente, cerca de 10% aa acima da inflação enquanto um título do governo de 5 anos ou mais gera 6,5% aa, também acima da inflação. Mas, enquanto no caso do Check-Up anterior assistimos ao aumento nos juros oferecidos pelo o título nos anos subsequentes, agora há a perspectiva, a partir do fim de 2024, de uma redução.
Há sempre o risco maior apresentado pelas ações, mas este, no caso da Engie é amenizado pela consistência de seus resultados históricos. Mesmo assim, dado que o equity premium - o retorno adicional procurado para compensar o risco adicional de ações - gira em torno de 4%, o papel da empresa não oferece vantagem sobre títulos do governo.
Mesmo assim, com o risco mais estabilizado concluímos que a compra do papel da Engie com horizonte de longo prazo (5 anos ou mais) por conta dos dividendos possui certa atração. Agora, dado o maior risco de aplicações mais curtas, representadas pela margem de segurança relativamente baixa e a variabilidade inerente ao nível de lucro e o payout de dividendos, não parecem interessante investimentos de curto ou médio prazo. No caso de posições existentes sugerimos a manutenção.
Conclusões e Recomendação
Os resultados da Engie nos últimos 12 anos estão consistentes mas modestos: há baixo crescimento de receita e quase nenhuma crescimento real do lucro. No entanto, característicos específicos do negócio da empresa inflam índices de retorno sobre patrimônio líquido e margem líquida, permitindo um alto payout de dividendos.
É o generoso yield de dividendos atual, junto com a baixa variação histórica do lucro, que fazem aplicações nos papeis da Engie competitivas com aplicações de renda fixa.
Juntando yield de dividendo e crescimento de lucro estimamos que investimento nas ações da empresa, neste momento, oferece um retorno de 10% aa acima da inflação e antes de eventuais impostos. Por sua vez, uma aplicação em título sem risco do governo de 5 anos ou mais, após as altas recentes, paga juros de inflação mais 6,5%, antes dos impostos.
Mas como o equity premium - o retorno adicional procurado tradicionalmente para equiparar investimento em ações a aplicações sem risco - gira em torno de 4%, a compra das ações da Engie está, neste momento, de atração limitada. Mas não totalmente contraindicada: para investidores existentes ainda sugerimos a manutenção do papel em carteira. Para novos investidores em ativos de baixo risco, no entanto, a melhor opção parece os títulos do governo.
Nota Importante: De acordo com nossa política de transparência, informamos que o responsável por Ação&Reação possui uma posição da Engie.
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