Fila se desfaz em ciber-espaço
Banco ainda é lugar para muitos fazerem fila, mas os sortudos, com a ajuda de teleprocessamento, já não chegam perto do caixa. O computador tem o poder de transformar toda a estrutura de pessoal, móveis e concreto, que constitui a face visível de serviços financeiros, em dígitos binários. Mas será que os clientes ficarão tranqüilos em confiar suas poupanças ao ciber-espaço? Só com uma fortíssima marca. E quem tem nome mais forte do que Bradesco?
Arranha-céus entre nuvenzinhas
Não é necessário se estender muito sobre o que é o Bradesco. Tudo mundo o conhece. O segundo banco brasileiro em termos de lucro (após Itaú) e o segundo em ativos (após Banco de Brasil). Principalmente um banco de varejo, possui, no fim de 1998, 2.401 agências, 956 postos de atendimento e 506 postos Dia e Noite, e conta com um total de 17.091 equipamentos de auto-atendimento. Bradesco Net fornece 760.000 usuários com serviços bancários on-line. Também tem novo logo de arranha-céus entre nuvenzinhas. Não é bonito?
Conglomerado financeiro
Não vamos esquecer das subsidiárias, cujos resultados são de grande importância para a empresa-mãe. Bradesco controla outros bancos (BCN, Credireal) e empresas de leasing e corretagem na área financeira. Possui grandes investimentos na área seguradora. E através da União de Comércio e Participações tem participações relevantes em diversas outras áreas. Entre as empresas afiliadas, o destaque é o investimento em CSN. De fato o Bradesco é um conglomerado financeiro.
Exército de analistas
Com seus papéis da primeira linha, Bradesco, diferentemente de Weg, por exemplo, é sujeito a estudo intensivo por um exército de analistas especializados. Papéis deste tipo, sob condições normais, não possuem uma margem de segurança significativa entre seu valor "intrínseco" e o preço negociado em bolsa - um dos objetivos de nossa busca. Mas como veremos isso não diminui, necessariamente, sua atratividade.
A oportunidade é boa demais
Fica patente, no entanto, que o jogo aqui é diferente. Mas a oportunidade é boa demais para perder: estamos à procura de uma história de bom crescimento e resultados consistentes, e o Bradesco, além de um nome medido em toneladas, possui as duas qualidades em ampla medida.
Manipular para suavizar
Só um pequeno aviso: de fato, através da manipulação de provisões um banco tem amplo escopo para suavizar seus resultados. Não sabemos - e nem vamos tentar descobrir - até que ponto a bonita trajetória do Bradesco é resultado deste mecanismo. Acreditamos que 7 anos de dados firmes são suficientes para mostrar uma tendência convincente.
Haja tendência
E a tendência é bem positiva. O banco apresenta um crescimento médio de lucros de 14% p.a. Na pior das hipóteses (eliminando o baixo ponto de partida de 1993, distorcido pela inflação, e mantendo o baixo lucro de 1999 afetado pela desvalorização), a taxa cai para 9,5%. A média do retorno sobre o patrimônio líquido é de quase 14%. Os indicadores de liqüidez e capitalização parecem tranqüilos para um não especialista. Observamos, no entanto, que o banco é um pouco mais dependente do dinheiro dos outros (mais "alavancado") do que o Banco Itau.
Famoso float; infame spread
Dá para extrapolar a tendência para frente? Os ganhos com inflação (o famoso "float") ficaram no passado. Há a perspectiva, com a redução da necessidade de o governo levantar dinheiro no mercado, dos bancos serem forçados a competir mais vigorosamente para emprestar para empresas e indivíduos. Teoricamente os juros estão em queda, e o infame "spread" estreitando. E há a nova concorrência de instituições estrangeiras.
Rentabilidade e meteorologia
Acreditamos que dê para extrapolar, sim. Vamos colocar nossa fé nas imensas oportunidades a serem abertas com a retomada de crescimento econômico. E na comprovada capacidade dos bancos líder navegarem com vantagem nas mais variadas condições meteorológicas. Entre os fatores que garantirão a lucratividade futura, alguns são particularmente importantes: a continuada forte expansão na base de correntistas; os ganhos de escala permitidos pelo uso crescente de automação e teleprocessamento; a provisão de novos serviços bancários pagos; e a expansão de atividades no setor segurador.
Probabilidades x possibilidades
Tudo bem, mas dá para ganhar com a compra dos papéis do banco? Primeiro vamos dar uma olhada nos indicadores de mercado. O preço/lucro para 2000 está está 10% acima da média do fim dos anos 1995-98 e o preço/patrimônio líquido está 22% acima de sua média. Nada aqui sugere que o papel esteja barato. O preço/patrimônio líquido máximo registrado por nossa base de dados é de 243% (mínimo de 71%). Um dia o indicador vai alcançar, e até passar, este nível de novo, mas quem sabe se vai ser agora ou daqui 10 anos. Tratamos de probabilidades num prazo razoável, não de possibilidades distantes.
Fim dos tempos
Vamos tentar estabelecer um valor para o banco usando o método de fluxo de caixa descontado. Para amenizar as distorções da desvalorização sobre o lucro de 1999, utilizaremos a média de 1998 e 1999 para calcular nossa base de lucros: R$ 826M. Assim, com um payout média de 46.7%, temos dividendos iniciais de US$ 386M em 1999. Vamos supor um crescimento de lucro e dividendos de 11% durante os próximos 10 anos - pouco mais de 1% acima do pior hipótese - e um crescimento de 5% p.a. do décimo ano até o fim dos tempos. Para nossa taxa de desconto adotamos, como sempre, a taxa de longo prazo de 12.5%.
Bradesco vale R$ 10 bi?
Obtemos um valor para o banco de US$8.147M, ao dólar do fim de 1998 de R$1,21, que equivale R$ 9.857M ou R$9,60/1000 ações. Isso é quase 20% abaixo do preço atual em bolsa e permite concluir que, em termos de seus fundamentos, o Bradesco não apresenta nenhuma oportunidade de um ganho significativo de capital.
Psicologia de massa
Mas preste atenção às qualificações. Primeiro, no curto prazo "fundamentos" representam só metade da história; a outra metade se chama "sentimento", e isso é assunto para psicologia de massa. Segundo, pode ser que o banco não ofereça um ganho de capital significativo, mas em termos de "ganho formiga" o banco gera uma renda bem razoável.
Dividendos formiga
Se o passado se reproduzir no futuro, nosso aumento de 11% p.a no lucro vai traduzir em um aumento de 11% p.a no preço da ação. Junte isso a dividendos de 4% e temos um retorno anual de por volta de 15% ao longo dos próximos anos. É razoável, mas não apresenta vantagem convincente em comparação com nossa taxa de longo prazo de 12,5%. (Falando de ganho formiga, por que o Bradesco paga ridículos dividendos mensais que representam, atualmente, mais ou menos R$1,00 por R$1.000,00 de investimento.)
Xodó de Graham
Mas não podemos rejeitar o Bradesco. É uma instituição líder em seu setor, com receitas substanciais, boa posição financeira, e lucro consistente e crescente, com pagamento contínuo de dividendos durante mais de 10 anos. E seu preço/lucro (11.1) multiplicado por seu preço/patrimônio (1.75) ainda é abaixo de 22,5. Quer dizer, no conceito do pai de investimento em valor, Ben Graham, é candidato para uma carteira defensiva de investimento.
Seguro contra inflação
Tal carteira, composta de ações e de renda fixa, visa tanto rentabilidade quanto proteção contra imprevistos no longo prazo. Aqui o componente de ações tem grande importância como seguro contra a volta de inflação. Assim em tempos normais recomendaríamos o papel, com sua feliz combinação de boa rentabilidade, alta liqüidez e baixo risco, para qualquer carteira defensiva de investimentos. Mas será que o momento atual, com a bolsa 100% acima do seu mínimo do ano, em dólar, pode ser considerado normal. Achamos que não.
Briga de cachorro grande
Mais uma coisa. Já tentou brigar com banco grande? É igual bater a cabeça na parede. É difícil até para o governo. Então imagina você como dono - de uma parte pelo menos - deste buldogue, com todo esse músculo ao lado de seu dinheiro.