Dois Mundos

Encontrar as verdadeiras grandes empresas, e ficar com elas por todas as flutuações do turbilhão que é o mercado, mostrou ser mais lucrativo para mais pessoas que a prática pitoresca de tentar comprá-las barato e vendé-las caro. - Philip Fisher

Fusão na cuca de Buffet
Quem é Philip Fisher? É o outro mentor de Warren Buffet, embora em grau menor. Suas palavras podem ser entendidas como uma crítica ao pensamento do Benjamin Graham (cujas idéias descrevemos ao longo de 3 artigos). E em certo sentido são.

Passado conhecido x futuro promissor
Enquanto Graham enfatizava, para baixar o risco, companhias grandes, dados quantitativos, o passado conhecido, margem de segurança e diversificação, Fisher, para alavancar seus retornos, enfatizava desempenho superior, fatores qualitativos, o futuro promissor e concentração (investimento em poucas empresas). É interessante que as duas abordagens aparentemente se complementam na cabeça do Warren Buffet, um dos investidores mais admirados do mundo de hoje.

Lista sem fim
Para Fisher a empresa ideal tinha as seguintes qualidades:
- produtos ou serviços com potencial para permitir grandes aumentos em vendas durante um período de anos;
- uma administração com a determinação de continuar desenvolvendo novos produtos ou processos para substituir os atuais no futuro;
- uma capacidade efetiva de pesquisa e desenvolvimento;
- um departamento de vendas acima da média;
e mais 11 fatores adicionais do mesmo teor!

Intestinos vasculhados
Introduzimos Fisher por duas razões: ele é importante no desenvolvimento das idéias de Warren Buffet - que analisaremos futuramente - e ele personifica dois aspectos muito importantes de análise de investimentos. Detalhamos parte de sua lista para ilustrar tanto o tipo de coisa que interessava Fisher, quanto o tamanho do esforço de investigação necessário para obter as respostas que ele procurava. Fisher vasculhava os intestinos das empresas que o interessavam.

Pequeno investidor em foco
Graham também pesquisava assiduamente, mas em outras áreas. No entanto, além de sua abordagem diferente no campo de investimento profissional, ele se diferencia do Fisher de uma outra maneira: ele dedicou um livro ao pequeno investidor. É neste trabalho ele considerou a posição do indivíduo que não pretende passar uma boa parte de seu tempo colhendo e analisando informações - e, na prática, dificilmente teria acesso ao tipo de coisa que atraia Fisher. Neste livro, sim, ele realmente expõe uma estratégia que difere radicalmente do tratamento do Fisher.

Nitroglicerina pura
Não podemos enfatizar demais a importância desta questão. Uma série de livros fascinantes sobre investimento têm sido lançado nos Estados Unidos e na Inglaterra nos últimos anos (One Up on Wall Street por Peter Lynch, The Warren Buffet Way por Robert Hagstrom Jr e The Zulu Principle por Jim Slater, por exemplo). Estes livros são "nitroglicerina pura". O entusiasmo dos autores tende a empolgar o leitor-investidor e ele freqüentemente acaba adotando uma ou outra estratégia pela metade sem estar consciente do risco envolvido.

Figuras pitorescas; entes sem cor
De fato existem dois mundos de investimento em ações e um abismo entre eles. O primeiro é habitado por figuras excitantes e pitorescas: growth companies (empresas de crescimento acelerado), turnarounds (empresas que passam de quase-falência para lucro), cíclicas (empresas cujos vendas e lucros seguem um ciclo), asset plays (empresas que têm ativos valiosas mas poucos sabem disso), etc. O segundo tem entes sem cor e, a primeira vista, meio chatos: margem de segurança, diversificação, longo prazo, risco. As operações também são diferentes. Enquanto no primeiro mundo há opções, arbitragens, futuros, o segundo tem que se contentar com uma espartana compra ou venda de vez em quando.

Profissional é profissional
O primeiro mundo é o mundo do profissional (que nem por isso, necessariamente faz sucesso - pode ganhar bem administrando mal o dinheiro dos outros) que dedica 10 horas por dia a ele. Podemos também ser profissionais mas para isso temos que dedicar a este mundo um tempo considerável.

Uma noite por quinzena
O segundo mundo é o mundo do amador inteligente que se interessa pelo mercado de ações. Aqui uma pessoa pode obter um rendimento bom ao longo dos anos dedicando, vamos dizer, o máximo de uma noite por quinzena ao assunto. Como não cansamos de repetir, este amador, utilizando técnicas simples, não terá muita dificuldade em ultrapassar a performance média dos fundos.

Prêmio nobel entra pelo cano
A diferença entre os dois mundos é que, pelo menos na teoria, o profissional sabe como controlar o risco envolvido em suas operações mais sofisticadas. Como temos visto recentemente, no entanto, até equipe prêmio nobel em controle de risco pode entrar pelo cano.

Emoção é risco
É claro que muitos (incluindo este boletim) não resistirão as emoções do dia a dia do mercado. Tudo bem, mas estes devem se conscientizar do risco envolvido e só aplicar uma parte pequena de seus recursos totais em operações mais especulativas.

Lições dos mestres
Em nosso nova seção, ABC DA BOLSA, aplicaremos na prática as lições e estratégias apresentadas em nossos artigos sobre pensamento dos mestres do investimento.
1/12/98

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