... Mas precisam de um pouco de ajuda
É isso a justificativa básica atrás do procedimento recomendado para o investidor passivo (descrito na AF do agosto e a ser repetido em novembro). Só que há importantes qualificações que aumentam ainda mais a margem de segurança. Em sua escolha de ações este investidor deve utilizar a técnica do "dollar-cost averaging", onde ele investe um valor igual a intervalos regulares, se limitar a firmas importantes em seu setor e respeitar um série de indicadores financeiros e de desempenho. Para minimizar o risco de mau desempenho em algumas das companhias escolhidas, ele deve diversificar seus investimentos entre 20 ou mais ações. Ele também enfatiza que, para ter uma adequada margem de segurança, a "cobertura" de despesas financeiras por lucro deve ser confirmada ao longo de vários anos.
Expansão geométrica de ações subvalorizadas
No caso do investidor agressivo em "grandes firma fora da moda" o procedimento é semelhante. Só que aqui, numa tentativa de conseguir um ganho acima da média, os critérios são ajustados para tentar identificar companhias cujo desempenho esteja temporariamente abaixo de sua média histórica. Assim a margem de segurança consiste numa combinação de uma ação subvalorizada e a tendência de dividendos expandir geometricamente.
Growth stocks exigem projeções conservadoras
Os procedimentos descritos acima se baseiam unicamente na análise de valores passados que são, por definição, conhecidos com bastante precisão. Isso os diferencia do caso de ações de crescimento (growth stocks). Aqui o investidor usa projeções de lucro futuro como base para sua decisão de comprar ou não. Embora Graham considera que esta abordagem em parte vai contra seu princípio da margem de segurança, ele admite que quando as projeções forem executadas com cuidado, e são conservadoras, podem também servir para calcular uma margem de segurança satisfatória.
Quando qualidade medíocre é investimento sólido
É quando ele tratar de ações subvalorizadas de companhias secundárias - as "verdadeiras pechinchas" - que o conceito de margem de segurança torna claríssimo. Por definição, é a diferença entre o preço da ação e seu valor estimado. Graham só recomenda a compra de papéis deste tipo quando o preço for equivalente a, no máximo, dois terços de seu valor estimado. Aqui, onde o investidor normalmente não terá grande entusiasmo pela companhia emissora do papel, a função da margem de segurança existe para absorver o efeito de cálculos errados ou de azar incomum. Mesmo se lucros declinam de forma moderada, uma margem adequada deveria assegurar um retorno satisfatório. Graham ressalta: um preço suficientemente baixo pode converter uma ação de qualidade medíocre em um investimento sólido. Mesmo assim ele chama a atenção ao fato que, num mercado em alta, o risco de pagar caro por uma ação da primeira linha e muito menor que pagar caro por uma ação da segunda linha.
Margem x diversificação
Em todas as situações consideradas há uma íntima relação entre a margem de segurança e a diversificação. A margem só garante que a chance do investidor ganhar é maior que a chance de perder. A chance de uma carteira apresentar lucro aumenta com o número de investimentos individuais, com a probabilidade agindo em seu favor, agregados.
Cálculo confiável + boa chance de lucro
Ben Graham resume sua posição sobre margem de segurança com as seguintes palavras: "Não execute uma operação, a não ser que um cálculo confiável mostre que há uma boa chance de um lucro razoável".
No Brasil o investidor tem margem favorável
Voltamos à questão da margem de segurança oferecida por ações ao investidor passivo no mercado brasileiro. Calculamos um preço/lucro de 6x, no máximo, para ações de companhias brasileiras da primeira linha atualmente. Assim, temos um lucro/preço, ou earnings yield de 1/6 = 16.7%. Mais problemático é identificar um juros de longo prazo para renda fixa da primeira linha. Consideramos inviável uma taxa muito acima de 10%. Nenhuma economia desenvolvida tem atualmente uma taxa acima de 5.3% para bônus do governo de 10 anos. A oficial Taxa de Longo Prazo no Brasil é atualmente 11.7%. Adotando isso podemos verificar que temos um diferença de 16.7% - 11.7% ou 5 pontos percentuais - uma margem de segurança idêntica ao exemplo fornecido por Graham.
Nos Estados Unidos não
Mais preocupante é a posição do mercado americano. Lá o preço/lucro supera 20x, dando um earnings yield de menos que 5%, enquanto os juros produzidos por um bônus do governo de 10 anos são 4.9%. Conclusão: não há margem de segurança nenhuma para o investidor passivo americano.
1/10/98