FLASH DA EMPRESA |
São Paulo Alpargatas: será que agora vai? Data: 10/01/01 Preço do PN por 1000 ações: R$149,00 Número de ações: 1.863,58 MM Setor: Vestuário Produtos/Serviços Principais: Calçados, lonas, coberturas, tecidos e roupas. O entusiasmo de investidores com o forte crescimento dos últimos três anos deve impulsionar uma alta de pelo menos 40-50% no preço da ação ao longo de 2001. Mas a evidência de quase duas décadas sugere que é ainda cedo para comemorar o surgimento de uma "Nova Alpargatas". O papel possui baixa líquidez de negociação.
Peso do passado
O passado pesa nas costas de São Paulo Alpargatas, até no nome. Quase um século após sua fundação, em 1907, por investidores britânicos (aparentemente baseados na Argentina), a empresa ainda luta para redirecionar seu negócio velho para o mundo moderno. É possível que agora acerte, mas a evidência histórica sugere cautela.
Still walking!
Criada para fabricar alpargatas, lonas e coberturas, principalmente, a empresa não se desviou muito de sua linha original.
Hoje, controlada por Camargo Correia e Bradesco (após a recompra do controle da Alpargatas Argentina em 1982), é a maior fabricante de calçados do Brasil (83% das receitas) e continua forte em lonas e coberturas (11%). Também possui a rede Meggashop que vende produtos ponta de estoque.
Blue jeans for blue collars
A única participação importante da empresa são os 25% que possui da companhia aberta Santista Têxteis, uma fabricante de tecidos para jeans (82%) e roupas profissionais (18%). A controlada gerou 16% do lucro operacional consolidado em 1999.
Traseiro na poeira
Os 17 anos de dados que temos da Alpargatas mostra dois períodos de prejuízos: 1991/92 e 1997/8. O retorno médio sobre o patrimônio líquido (do fim de cada período) é por volta de 4,5%, que é fraco.
A empresa não cresce. Considerando a média de 3 anos no início e fim do período, a receita líquida aumentou a uma taxa de somente 5% p.a. O nível de lucro foi praticamente inalterado.
Sombras vagueiam
Para aliviar o ambiente é necessário considerar os "múltiplos" atuais.
Olhando a Tabela, verificamos que nossa projeção de lucro para 2000 produz um lucro/patrimônio líquido de 19%, preço/lucro de 3,7x, preço/patrimônio líquido de 70% e yield de dividendo de 8,1%.
A tendência desde 1997 é também positiva, e consistente, com rentabilidade e liquidez corrente crescendo e dívida líquida caindo.
É um conjunto de indicadores muito atraente. É uma nova era, ou a sombra da velha alpargataria ainda vagueia por aí? Seja qual for, se a recuperação da economia se consolidar é difícil imaginar qualquer reversão nestes resultados positivos nos próximos 1-2 anos.
Neste caso, olhando os indicadores anteriores de 1995, parece que o mínimo que podemos esperar é um preço/patrimônio líquido de 100% - que significa uma valorização de 40% no preço da ação.
Havaianas da periferia
Antes de estimar um valor intrínseco para Alpargatas vamos pensar um pouco sobre seus produtos e seu mercado. Qualquer um fabrica sapatos, lonas ou tecido para jeans. Para sobreviver num mercado competitivo, uma produtora destes itens precisa de grande escala e eficiência. E para lucrar necessita de marcas fortes.
Não somos especialistas em marketing, mas como consumidor ocasional reconhecemos que os nomes "Topper" e "Rainha" são bem conhecidos - mas como marcas velhas de produtos de consumo de massa.
Por outro lado, os "brands" mais recentes, "Timberland" e "Mizuno", embora emanando mais sofisticação, são ainda pouco conhecidos no Brasil. A marca "Havaianas" entrou no linguajar brasileiro, mas será que alguém compra chinelo de dedo pela marca?
Otimismo não respondido
Ao calcular um valor para a empresa vamos ser otimistas e supor, a despeito da evidência histórica ao contrário, que o lucro e dividendo crescem a 4% p.a até o fins dos tempos - um pouco acima do crescimento secular da economia. Até termos idéia melhor nossa taxa de desconto continua a TJLP, de 9,25%.
Usando o lucro líquido de 1999 de R$51MM* (que, além de ser praticamente a média de 1998 e a previsão para 2000, representa otimistas 14,5% do patrimônio líquido) e uma payout de 30%, obtemos um valor para Alpargatas de R$291MM, somente 5% acima do valor atual de mercado de R$278MM.
(*Embora, para facilitar a analise do passado, utilizamos dólares na Tabela, aqui empregamos reais para tornar o cálculo mais transparente.)
Se supusermos uma taxa de crescimento de lucro de 5% o valor aumenta para R$360MM e a "margem de segurança" para 29% - modesta nas condições avantajadas que adotamos.
Surto ou pra valer?
Nada que se baseia em uma convivência intensiva de poucos dias é definitivo. Mesmo assim nossa conclusão é relativamente fácil. Embora recentemente tenha descoberto o "cliente e o mercado", há a impressão que Alpargatas carrega nas suas costas os produtos e concepções de outra era.
É bem possível que a boa performance dos últimos três anos não represente uma mudança permanente de patamar: pode ser simplesmente mais um dos surtos de atividade mais intensa vistos periodicamente ao longo das últimas duas décadas - neste caso gerados pela recuperação da economia e a retração das importadoras. Deste ponto de vista a empresa já está corretamente "precificada".
Fé faz milagre
Mas até descobrirmos se é surto ou não, acreditarmos que muitos investidores vão levar fé na tese da "Nova Alpargatas". E esta crença, se o mercado continuar próximo de seu nível atual, provavelmente tem o poder de impulsionar o papel - a despeito de sua baixa liquidez - para uns 40-50% além de seu preço atual ao longo de 2001.
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