Consultoria Ação&Reação ANÁLISE CONFIDENCIAL |
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Confecções Guararapes
Data: 11/04/02 Preço da PN por 1000 ações: R$ 4.170,00 Número de ações: 62,10 MM Setor: Têxteis e Vestuário Produtos/Serviços Principais: Confecções (calças, camisas, bermudas, etc.)
Confecções Guararapes foi fundada em 1956 em Recife pelo atual presidente, Nevaldo Rocha, e seu irmão Newton. Atraída por incentivos fiscais, o matriz foi transferido para Natal dois anos depois. A empresa é familiar: o presidente Nevaldo é dono de 68% das ações ordinárias e 78% das preferenciais; outros membros da família ocupam as três vice presidências.
Além de suas atividades de confecção de vestuário, Confecções Guararapes é empresa de participações, detendo praticamente todo o capital votante de suas duas principais controladas: Lojas Riachuelo, administradora de uma cadeia de lojas de vestuário, e Guararapes Têxtil, produtora de têxteis e vestuário. Estranhamente, enquanto Lojas Riachuelo, que compra em torno de 30% da produção da controladora, é responsável por quase 80% das vendas consolidadas, a controladora gera quase 80% dos lucros.
Tabela de Dados
Em novembro de 1990, impactadas por uma queda nas margens e forte aumento na dívida, Confecções Guararapes e Lojas Riachuelo pediram concordata. Após uma reestruturação radical, e pagamento dos credores, a concordata foi levantada em 1992.
O grupo produz calças sociais e jeans (53% das receitas), camisas (34%), bermudas (12%) e outras peças de roupa, com ênfase na linha Pool. O mercado do grupo é extremamente sazonal. Há poucas vendas no primeiro trimestre enquanto vendas no quarto trimestre representam mais de metade do total anual. O mercado de vestuário é um dos mais competitivos do país.
Seus principais concorrentes são Lojas Renner, Casas Pernambucanas e C&A.
No fim de 2000 Lojas Riachuelo administrava 70 lojas. No mesmo ano as unidades industriais da Confecções Guararapes e Guararapes Têxtil, em Natal e Fortaleza, produziram 24,8MM de peças de vestuário.
Incentivos fiscais, que acabam em 2007 e 2008, reduzem o nível de imposto de renda pago pela Confecções Guararapes e pela Guararapes Têxtil. Provavelmente é por causa disso que o grupo prefere canalizar a maior parte do seu lucro através das duas empresas - e não via Lojas Riachuelo que não goza de incentivos.
A análise utiliza a Tabela de Dados, com valores em dólares ajustados para minimizar os efeitos da desvalorização.
Aqui, ao examinar o registro histórico, vamos ignorar o ano de 1993 que ainda exibe os efeitos da concordata. E como não temos o resultado do quarto trimestre, que representa pelo menos metade das vendas e lucros do ano, vamos também desconsiderar 2001.
Após ajustamentos, calculamos que vendas expandiram a 15% a.a. e lucros a 10% a.a. de 1994 até 2001. O registro consistente e crescente mostra que o grupo se recuperou por completo da situação que provocou prejuízos nos anos 1990, 1991 e 1992.
O Retorno sobre o Patrimônio Líqüido atual 2002 está um pouco acima da média dos 8 anos anteriores (omitimos o atípico 1993), enquanto o P/L está 20% abaixo da média do fim de 7 anos anteriores (omitimos 1993 e 1994). Como os indicadores incorporam uma previsão, não dá para concluir que a ação esteja barata em termos históricas. Agora o Preço/Patrimônio Líqüido, que ñão depende de uma previsão, está também 20% abaixo da média. A análise promete!
Após o susto da concordata, verificamos uma posição financeira que é compartilhada por poucas empresas brasileiras: praticamente não há dívida liqüida e a liqüidez corrente está folgada - bons sinais.
Agora trabalhamos em reais. Imaginamos que parte do forte crescimento no inicio do período mostrado na Tabela foi conseguido através da reabertura de capacidade fechada durante a reestruturação. Assim, adotamos a taxa de 8% a.a. como nossa projeção do lucro para a próxima década, abaixo da média histórica. A partir do fim deste período supomos que a taxa caia para 5% a.a. Como o lucro base, usamos a média de 2000 e 2001: R$ 59MM. Nosso Payout é de 24% e nossa Taxa de Desconto o TJLP de 10%.
Utilizando o Método de Fluxo de Caixa Descontado, obtemos um valor intrínseco de R$ 405MM. Este valor representa uma Margem de Segurança de 56% acima do valor de mercado atual de R$ 259MM. Em outras palavras: o preço atual oferece um desconto de 36%.
É neste ponto que revemos nossas premissas. Como nosso lucro base é maior que o lucro efetivo de 2001, e nossa taxa de crescimento de 8% a.a. é acima da taxa dos últimos anos, não podemos afirmar que nossa premissas são particularmente conservadora.
Se utilizamos um lucro base 10% menor, e reduzimos a taxa de expansão para 7%, o valor intrínseco cai para R$ 335MM. Dá um Margem de 29%, ou um desconto de 23%.
O problema todo vem do fato que apesar da receita consolida bruta aumentar 12% em 2001, o lucro líquido do controladora caiu 23%. O lucro mais baixo reduz tanto a taxa do crescimento histório de lucro quanto o cálculo do lucro base.
Analisando o balanço de 2001, verificamos que a queda no lucro veio principalmente do crescimento em Despesas com Vendas em função do aumento i) dos investimentos em publicidade e ii) da taxa de inadimplência (não pagamento por clientes). Acreditamos que, com a melhora na situação econômica, o impacto do dois fatores será sensivelmente reduzido em 2002.
Assim, concluimos que as premissas revisados são excessivamente pessimistas e que a Margem de Segurança fica bem mais perto dos 56% do que dos 29%, tornando o desconto existente atraente.
Após perder para o Índice Bovespa de meados de 1997 até o fim de 2000, o gráfico da ação da Guararapes tem mostrado um desempenho superior ao Índice em 2001. O preço do papel está se aproximando de seu ponto mais baixo de 2 anos. Em resumo: de novo os sinais estão positivos.
Não há dúvida que o mercado de confecções apresenta risco. A concordata é evidência disso. Como mencionamos, é um mercado muito competitivo: por um lado, qualquer um faz uma camisa em casa; por outro, depende do mundo imprevisível da moda. Mas contra risco temos uma arma: Margem de Segurança. É nossa opinião que, com uma Margem de por volta de 50%, investimento na Confecções Guararapes é uma opção atraente.
Só que há um problema: a baixa liqüidez de negociação das ações da empresa. O presidente Nevaldo está sentado em cima de quase três quartos do total. Nos últimos 2 meses houve uma média de pouco mais de 10 operações por semana. Em princípio, baixa liqüidez não é desvantagem para um pequeno investidor de longo prazo. Mas a liqüidez da Guararapes está no limite do viável.
Aqui começamos a entender o fato do desconto relativo, identificado pela Análise de Múltiplos, estar menor do desconto absoluto indicado pelo Fluxo de Caixa Descontado. É provável que seja reflexo da combinação da baixa liqüidez e a memória da concordata.
Outro ponto. Não dispomos de maiores detalhes sobre a família Rocha. Estamos supondo que o atual presidente Nevaldo, o principal acionista da empresa, seja o mesmo Nevaldo que fundou a empresa. Neste caso podemos prever a possibilidade de turbulência durante a transferência do comando e do controle da empresa nos próximos anos.
O que podemos esperar de um investimento na Guararapes? Não há nenhuma garantia de eliminação do desconto verificado no curto ou médio prazo. No longo prazo o investidor pode esperar um retorno de talvez 15% em termos de dividendos e ganho de capital. É uma taxa acima da média, mas não excepcional.
Agora, observe de novo a Tabela de Dados. Podemos constatar que em várias ocasiões, inclusive em épocas de rentabilidade abaixo da atual, o Preço/Patrimônio Líqüido da ação superou o nível de 70%. Se o cenário que prevemos para a próxima década se concretizar, pode ter certeza que em algum ponto dos próximos um ou dois anos a empresa vai oferecer, além dos 15% a.a. esperados, um prêmio surpresa de pelo menos 50% a mais. A baixa liqüidez pode dificultar o recebimento do prêmio mas que vem, vem.
Recomendamos o papel da Guararapes para carteiras diversificadas mantidas por pequenos investidores cujo horizonte de retorno é de 2-5 anos.
Nota Importante: Como parte de nossa política de transparência, observamos que o responsável por Ação&Reação possui uma posição nas ações da Guararapes.
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